Lula foi eleito, derrotando por pouco mais de 2 milhões de votos Jair Bolsonaro com um discurso fortemente econômico. A lembrança das boas políticas do passado, junto com a exposição dos péssimos índices econômicos e sociais de Bolsonaro, impulsionou a retórica petista na última eleição. Quando assumiu, o presidente indicou Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, contrariando o mercado financeiro, que preferia um nome como Henrique Meirelles, que faria tudo para agradar os acionistas e especuladores que falam pela Faria Lima, deixando de lado o combate às desigualdades e promoção de políticas de bem-estar e escolhendo um quadro diferente, no caso visto como mais moderado, aquele proposto por certos petistas que preferiam um perfil claramente desenvolvimentista como Luiz Gonzaga Belluzo ou outro economista da Unicamp.
O fato é que Haddad foi escolhido por sua proximidade quase familiar com o presidente, que provavelmente já lançou um balão de ensaio para sua sucessão com essa indicação.
Quadro tradicional do PT, o ex-prefeito de São Paulo foi indicado para ser Ministro da Fazenda muito em razão de sua proximidade com Lula. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, onde também concluiu um mestrado em economia e um doutorado em filosofia, além de ser professor de ciência política desde 1997. Desde a vida estudantil interessou-se pelos debates econômicos, inicialmente pela leitura da obra de Karl Marx e, posteriormente, debruçando-se sobre os escritos dos autores da chamada Escola de Frankfurt, a saber, Theodor Adorno,Max Horkheimer,Hebert Marcuse e Jürgen Habermas.
Sua carreira administrativa começou quando foi chamado para fazer parte da gestão de Marta Suplicy, integrando a Secretaria de Finanças e Desenvolvimento. Posteriormente chegou ao Ministério da Educação em 2005. Sua atuação na pasta lhe rendeu capital político para concorrer pelo PT à prefeitura da capital paulista em 2012, pleito em que conseguiu vencer o tucano, e favorito na disputa, José Serra.
Na prefeitura, além de programas que visavam a expansão da malha cicloviária da cidade e pelo programa “braços abertos”, que, segundo especialistas no assunto, representou uma experiência inovadora no contexto da promoção da reabilitação psicossocial[1].
Mesmo com essas medidas modernizantes, saiu da prefeitura sem conseguir se reeleger e com altos índices de rejeição. Em 2018, como sabemos, foi derrotado na eleição presidencial pelo então candidato do PSL.
Seu trabalho no Ministério da Fazenda no terceiro mandato de Lula, até o momento, está sendo turbulento. Ao defender a posição de voltar a cobrar impostos federais sobre combustíveis, medida que tinha sido revogada pelo governo anterior por motivos eleitorais, encontrou resistências dentro do próprio partido.Na última sexta-feira (17 de março) apresentou ao presidente Lula uma nova âncora fiscal, visando agradar o mercado (que desde o início se mostrou hostil ao novo governo) ao mesmo tempo que preservando certos gastos sociais, que foi vista com bons olhos pela imprensa tradicional, apesar das reticências públicas de Artur Lira.
Novamente, figuras do PT nos bastidores não se mostraram à vontade com a nova medida, e o Ministro teve que ponderar e ressaltar que quem decide no final das contas é o presidente da República. Essas ações fizeram com que Haddad seja visto, até a presente conjuntura, como a parte ‘’racional’’ de um governo ‘’gastador de esquerda’’, na visão dos setores dominantes da economia e comunicação. Isso não parece impressionar quadros como Gleisi Hoffman,presidenta do partido, que afirmou que voltar a onerar os combustíveis, como proposto por Haddad, seria não cumprir uma das promessas de Lula na campanha presidencial.
O Historiador e Influenciador digital Jones Manoel, ligado ao PCB, em seu canal no Youtube que possuí bastante ressonância nos círculos esquerdistas virtuais, chegou mesmo a classificar Haddad como neoliberal, contando com o apoio de muitos correligionários, subindo a temperatura do debate nas redes sociais.
Atacado por uns, apoiado por outros o importante é que no final do governo Lula (isso se o Ministro permanecer até o fim do mandato, descartando um caso de impeachment do presidente) Haddad precisa mostrar o que fez e defender um legado positivo para o país. Se fracassar nessa missão, pode fortalecer perigosamente a extrema-direita bolsonarista, que está à espreita para voltar ao poder. Vimos nos últimos anos como a extrema-direita tem se beneficiado politicamente das crises políticas (em alguns casos causadas pela esquerda parlamentar) e sociais no mundo inteiros direitistas sabem muito bem como enganar a população e receitar medicamentos duvidosos, seja no combate ao coronavírus ou nas políticas de Estado. Os setores dominantes do mercado, como bem sabemos, não estão preocupados com os efeitos negativos dessa demagogia. Esse cenário representa um risco alto para o futuro da democracia brasileira.
Referências bibliográficas
[1] Mirna Barros Teixeira, Alda Lacerda, José Mendes Ribeiro. Potencialidades e desafios de uma política pública intersetorial em drogas: O Programa ‘’De braços Abertos’’ de São Paulo, Brasil.