O melhor amigo das pessoas inteligentes e sensíveis à beleza é o livro. Ele vai bem na mesa, na cama, na rede, no colo e nas mãos. Entrega-se de corpo e imagem, impresso e virtualmente, a quem por ele se interessa. Cai bem a qualquer hora do dia ou da noite. Iria bem nas quatro estações do ano, se as tivéssemos. Alimenta o cérebro, acalma o coração e enriquece a alma. Bota pra viajar pelo mundo e pelo tempo, faz conversar com pessoas e coloca a gente no centro dos acontecimentos, sejam reais, sejam imaginários. É o silêncio que fala.
Segundo Umberto Eco, um dos produtos perfeitos. Sim, porque, como a roda, o garfo e o óculos, passam os séculos e o livro permanece lá, lépido e fagueiro, no mesmo design de sempre. Andou contra a corrente e desmentiu todos os que profetizaram seu fim. Disse bem aquele escritor de língua portuguesa, quando lhe perguntaram se o livro resistiria à internet e às redes sociais — nunca se leu e nunca se escreveu tanto como hoje, e isso ocorre agora em todas as faixas etárias, a partir da adolescência.
Devo confessar que sempre tive reserva quanto a livros falados, embora acredite no que me disseram — nos primeiros séculos da história do livro, invariavelmente um livro era lido em voz alta, de um leitor para muitos ouvintes. Foi então que recebi de uma jovem amiga convite para participar do “Livro Falado“, programa que vai ao ar nas segundas, quartas e sextas, às 15 horas, na Rádio Liberdade, da cidade de Boa Viagem, sob o comando de Deodato Ramalho.
Disse a mim mesmo que queria apenas perceber a metodologia do programa de rádio. Falei que queria conhecer um pouco do espírito literário do advogado Aroldo Mota, autor do “Boa Viagem – Realidade e Ficção“.
Fui.
Participei.
E gostei.
Num ambiente de informalidade, o programa parece uma roda de conversa. Nada de monólogo, nada de monotonia. Um ritmo perfeito. O comandante do programa domina todas as artimanhas da leitura, conhece todos os segredos do livro que lê, interpreta e transmite, sabe de tudo sobre o autor e sobre as circunstâncias e detalhes de cada página, de cada evento, de cada personagem. Deodato Ramalho é o maestro de um espetáculo cujo ritmo ele controla com estilo, leveza e bom humor.
Quando você menos espera, entra na conversa o minucioso historiador Cícero Pinto e dá os detalhes inesperados daquilo que acabou de ser lido e discorre sobre a família do personagem citado. Segue a viagem pelo tempo e pelo contexto, agora explicado pelo professor e poeta Lucas Carneiro, que faz versos sensuais com a forma, a cor e o sabor das frutas. Papo de gente inteligente, culta e bem informada. A economista Desirée Mota, na companhia da mãe, Francenilda, confere com seus comentários cheios de amor ao autor do livro (seu pai) um brilho especial feminino àqueles momentos.
Não há método, nem roteiro formal, pelo menos não os captei nos vários programas de que participei. Há um líder natural, cheio de empatia com tudo que envolve o infinito e maravilhoso mundo de um livro.
E todos agem transmitindo a impressão de serem profissionais do jornalismo do microfone, quando são apenas amantes da sabedoria dos livros.
Um acontecimento especial. Recomendo a quem interessar possa.