O jogo político e as regras implícitas

Nos dias 1 e 2 de abril de 2022 encerraram-se dois prazos importantíssimos para quem quer se candidatar nas próximas eleições: os prazos da janela partidária, das filiações e das desincompatibilizações.

São prazos cuja existência merece análise aprofundada que, por óbvio, não se faz em poucas linhas. Mas ouso rascunhar aqui.

A janela partidária é o período de trinta dias que se abre para que pessoas cujo mandato esteja perto do fim saiam dos partidos que patrocinaram suas eleições e migrem para outra legenda. E por que isso? Porque se não se utilizarem desta janela podem, os chamados trânsfugas, serem acionados por infidelidade partidária e perderem seus mandatos. Com a abertura da janela partidária há, sempre, uma mudança partidária de vários e várias eleitos(as).

É preciso que nós que estudamos comportamento político tenhamos atenção com estas mudanças. O que é infidelidade partidária? A saída (ou entrada) pela janela não caracteriza infidelidade?

O prazo de seis meses antes da eleição para que a filiação esteja deferida pelos partidos políticos também merece reflexão, pois é efetiva e simbólica ao mesmo tempo: seis meses de filiação a um partido político traduzem a identidade com as lideranças, a ideologia e o modo de agir do partido na esfera local? que incentivos o partido promete para que ocorra o ingresso em seus quadros?

A filiação à agremiação partidária, entre tantas opções, na realidade, considera poucas legendas. Observemos o cenário nacional onde lideram em filiações no período de 2016 a 2020 o MDB, PT, PP, PSDB, PDT, PTB, DEM, PL, PSB, Cidadania e Republicanos. São partidos que possuem uma relevância nacional no que diz respeito à representação no Congresso e na aproximação com as administrações, por que afinal é isto que importa.

No meio de toda essa confusão ainda existe o UNIÃO BRASIL que resulta de fusão de dois partidos: o PSL e o DEM. Já nasceu gigante; sob a presidência de Luciano Bivar (ex-presidente do PSL) recebeu as filiações de Moro, deputado Arthur do Val, Anthony Garotinho. Aqui no Ceará o UNIÃO BRASIL tem como presidente o Capitão Wagner que se desfiliou do PROS.

As desincompatibilizações são necessárias, segundo a Lei Complementar nº 64/90 para que a campanha não seja eivada de abusos de poder político por quem ocupa cargos no serviço público. É interessante ver qual o cargo e qual o prazo de desincompatibilização pois alguns são menores do que seis meses.

Ao final são questões para refletirmos na boa análise política. São elementos que devem ser considerados.

Adriana Soares Alcantara

Mestre e Doutoranda em Planejamento e Políticas Públicas da UECE Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa da UECE na linha "Política faccionada e atuação dos partidos políticos em âmbito subnacional". Servidora do TRE e Integrante da Comissão de Participação Feminina CPFem

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Adriana Soares Alcantara

Mestre e Doutoranda em Planejamento e Políticas Públicas da UECE Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa da UECE na linha "Política faccionada e atuação dos partidos políticos em âmbito subnacional". Servidora do TRE e Integrante da Comissão de Participação Feminina CPFem