O impeachment e o mercado, por Ricardo Coimbra

Algumas leituras equivocadas relativas à percepção do mercado sobre o processo de impeachment davam a entender que era a saída da presidente Dilma o que se esperava. Contudo, o que vem se observando nos dias seguintes é que não é bem assim. A esperada euforia inicial se deveu, principalmente, à perspectiva do fim de uma situação que gerava instabilidade sobre o futuro, de uma interrupção ou não do governo, e quando ou se isso iria ocorrer. Pois, o que se demonstra, ao mercado e à sociedade é um poder executivo enfraquecido, que não é capaz de executar uma agenda de medidas necessárias para sairmos da crise.

Outro fator que se mostra interessante é o fato de que este processo tende a não gerar um vácuo de poder político. Dado que o resultado leva a uma perspectiva de dois cenários, ambos melhores do que a situação de incerteza que se tinha: primeiro, caso o processo de impeachment não lograr êxito, a presidente terá passado por um teste crucial e sairá bastante fortalecida com a recuperação de seu poder político; e o segundo, caso o processo de impeachment consiga destituir a Dilma, iremos ter um novo presidente, com uma história política a se desenvolver e muito provavelmente vinculada a uma transição negociada com a oposição, que seria sustentáculo do novo governo.

Contudo, durante o processo, as quedas de braço entre a situação e oposição poderão gerar mais instabilidade. E se isso propiciar a contaminação da atividade econômica futura, pode-se influir numa nova redução da classificação de risco do Brasil, refletida pelos riscos relacionados à incerteza política. Diante disso, percebe-se que o mercado, como o governo, que acha que sairá vitorioso no processo, quer um desfecho rápido da situação para começar a fazer projetos concretos.

E o que se temia, em função das incertezas quanto ao futuro, como uma possível volatilidade na cotação do dólar e subidas e descidas fortes nas ações ainda não se efetivaram. E o mercado ficará atento e processando a cada nova informação, minuto a minuto. Deveremos ser espectadores e agentes deste processo.

Ricardo Coimbra

Ricardo Coimbra: Mestre em Economia CAEN/UFC, Professor UNI7/Wyden UniFanor UECE/UniFametro, Vice-presidente Apimec/NE, Conselheiro Corecon/CE.

Mais do autor

Ricardo Coimbra

Ricardo Coimbra: Mestre em Economia CAEN/UFC, Professor UNI7/Wyden UniFanor UECE/UniFametro, Vice-presidente Apimec/NE, Conselheiro Corecon/CE.