O fator Lula

Foi o ministro Edson Fachin em decisão monocrática possibilitar a candidatura de Lula com uma anulação dos processos realizados pela operação Lava jato, numa segunda-feira 08 de março de 2021, para o xadrez político brasileiro se realinhar, e o fator Lula ressurgir como peça importante no jogo. O governo federal sentiu o golpe; repórteres do jornal Folha de São Paulo revelaram que nos bastidores do Palácio do Planalto o clima era de temor com uma potencial candidatura do mandatário petista. No dia seguinte Lula criticou a condução da pandemia e clamou por vacinas num discurso no sindicato dos Metalúrgicos no ABC paulista; na manhã seguinte o presidente Bolsonaro apareceu de máscara em cerimônia no palácio do planalto em que o então ministro Pazuello anunciou a compra de milhões de doses de vacinas. A sensação é que a corrida pela vitória em 2022 se iniciou em uma segunda-feira pandêmica.

Lula tem carisma e seu discurso reverbera em todos os estados brasileiros, se candidato pode realmente trazer sérios problemas as pretensões eleitorais de Jair Bolsonaro. Em 2002 na disputa com José Serra conseguiu uma maioria absoluta no país, em 2006 perdeu estados importantes para Geraldo Alckimin como Mato Grosso e São Paulo, porém venceu no Tocantins e e em Goiás, estados do centro-oeste hoje dominados pelo bolsonarismo. Lula em 2022 pode retomar votos que foram para o capitão na eleição passada com uma mensagem simples ” Governei esse país, fiz coisas boas, sei como fazer e vou fazer de novo”. Seu modo flexível e conciliador certamente contribuirá para um apoio no Congresso, sobretudo no centrão e seu estilo popular tem boas chances de angariar votos de cidadãos com baixa escolaridade e menor renda. Todavia, seu nome nunca despertou uma rejeição tão alta entre alguns setores da sociedade como atualmente; Líderes religiosos, seguidores de Olavo de Carvalho e de grupos liberais, parte significativa da mídia tradicional e de empresariado são fortemente anti-lulistas, o que pode ser decisivo para uma vitória de Jair Bolsonaro ano que vem, tendo em vista que o capitão pode receber apoio de liberais e centristas contaminados por um discurso questionável e batido que considera Lula e o PT como extremistas.
De todo modo, não é só de polarização que vive nosso sistema político e setores relevantes da sociedade clamam por um alternativa a dicotomia PT/Bolsonaro.Nomes para isso não faltam, os mais destacados são; o ex juiz Sérgio Moro, que ostenta uma considerável popularidade em razão de sua atuação na operação Lava jato, elevando-se a um status de personificação da justiça e do combate a corrupção no país. Luciano Huck é a opção preferida de empresários e políticos que acreditam que a transformação ideal para o Brasil deve vir de um quadro de fora do sistema partidário, para trazer credibilidade para as mudanças necessárias. Luiz Henrique Mandetta e João Doria surgem como alternativas à dicotomia muito em razão de suas atuações na pandemia, o primeiro por ter sido um ministro da saúde minimamente decente que passava confiança e transparência para a população, e o segundo por ter se destacado na oposição ao governo Bolsonaro e ter se empenhado em trazer doses da vacina da empresa chinesa Sinovac para o Brasil.

Entretanto,como destacou o jornalista Reinaldo Azevedo em seu programa de rádio semanal, Ciro Gomes pode se firmar como o verdadeiro nome do centro e se consolidar como a grande alternativa a polarização, vale lembrar que em 2018 sua vice foi Kátia Abreu uma figura ligada ao agronegócio em um claro aceno ao centro, já que além de possuir uma base eleitoral de eleições passadas (os ”Ciristas” são em estimativa 10% do eleitorado) tem chances de conquistar votos na direita moderada e nos centristas que definitivamente não votam em Lula e em candidatos petistas.Por outro lado não possui a ressonância, a mensagem simples e eficiente e nem mesmo a estatura política de Lula, como salientou o cientista político Alberto Carlos de Almeida em seu canal no Youtube. Só o tempo nos mostrará as consequências do fator Lula para o futuro da nossa democracia

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.