O espelhamento das palavras crise e oportunidade é prática banal no mundo dos negócios e na sua conexão com a administração pública. O recurso a dois exemplos históricos recentes explica mais rápido e mais fácil a ideia.
Governo tucano, virada do século, FHC um presidente pouco afeito ao trabalho pesado, já quase no último ano de mandato. Uma monumental crise de energia, o tal apagão. É a crise.
De um jeito ou de outro, aos trancos e barrancos, o país atravessa a bronca. Nada muda estruturalmente. Mas sai da crise. O que fica dela? Adivinhe! Um negócio da China. As termelétricas. Monta-se um esquema que não resolve nada, mas até hoje, duas décadas depois continua rendendo lucros extraordinários a quem nele entrou. Simples: energia a preços de cinco a dez vezes maior que o normal. É tão bem amarrado juridicamente que dele o Estado não tem como sair.
Outro exemplo.
O Plano Real reduziu a inflação e isso tirou dos bancos margem de lucro. Chegou pra eles a hora da verdade. Descobriram-se vulneráveis. Era preciso salvar o sistema bancário brasileiro. Veio o PROER e os bancos foram salvos, meia dúzia sacrificados, vários pequenos e médios foram comprados pelos grandes. A crise foi enfrentada.
Agora, a oportunidade.
Bancos foram autorizados a cobrar livremente tarifas de serviços. Seria pouca tarifa para cobrir custos administrativos e evitar demissões. Décadas depois, as tarifas podem chegar a cinquenta bilhões de reais por ano e os empregos no setor desabaram com a automação.
É isso que chamam de mercado? Uma conexão lucrativa entre o público e o privado? A transformação de crise em oportunidade?