O discurso machista : seus seguidores e suas vítimas, por Hérika Vale

Uma declaração polêmica de um membro do Parlamento Europeu, durante debate sobre desigualdade de gênero no último dia 1º de março, rendeu ao seu proclamador, além de muita “vergonha alheia” por parte de quem teve o desprazer de escutar, punições por parte do presidente daquela Casa. Na ocasião, o polonês Janusz Korwin-Mikke afirmou que “mulheres devem ganhar menos que os homens porque são mais fracas, menores e menos inteligentes”. Após essa declaração, a deputada espanhola Iratxe García-Pérez que também estava no local, respondeu-lhe com firmeza: “Eu sei que o fato de que as mulheres podem representar cidadãos europeus nesta Casa em igualdade de condições com você te incomoda e te preocupa. Venho defender as mulheres europeias de homens como você”.

Após o Parlamento julgar que Janusz Korwin-Mikke quebrou o regimento interno, as sanções impostas foram: ele perderá o direito a receber o pagamento diário por 30 dias, não poderá participar das sessões do parlamento por um período de 10 dias, e ainda está proibido de representar o parlamento em qualquer delegação interparlamentar, em qualquer fórum, por um ano.

No Brasil, não raros são os episódios em que políticos se manifestam de forma preconceituosa e desrespeitosa em declarações que muitas vezes são proferidas no calor dos debates das Casas legislativas. Basta lembrar os episódios lamentáveis dos quais foi protagonista o deputado Jair Bolsonaro, já bem conhecido da grande massa conservadora que luta pela “família cristã brasileira” como sendo um dos pilares dos “bons costumes”. Ele já trocou insultos com outros colegas e é afeito a xingamentos e arbitrariedades de toda ordem contra alguns de seus pares na Câmara Federal. Em um dos episódios, Jair afirmou em entrevista ao jornal “Zero Hora” que a colega, também deputada, Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”, acrescentando que ele mesmo não a estupraria porque a considera “muito feia”. O episódio ocorrido em 2014 gerou polêmica e, após dois anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu duas ações penais contra o deputado Bolsonaro, o que o torna réu pela suposta prática de apologia ao crime e injúria. Curiosamente, o único ministro que foi contra a abertura das sanções contra o deputado, foi mesmo que deu a liberdade a Bruno, o ministro Marco Aurélio Mello.

O que faz com que declarações como essas do parlamentar polonês e do brasileiro sejam ainda tão comuns? Os dois têm histórico polêmico, o polonês já foi punido pela Casa europeia por fazer saudações nazistas durante uma sessão e o brasileiro é um dos entusiastas à volta da ditadura militar, coleciona admiradores de um discurso retrógrado e intimidador, talvez esses mesmos admiradores sejam os que perseguem e agridem as moças nas ruas, como ocorreu com Camila Wiebusch, de 28 anos, em um bar com amigos, no Centro do Rio, quando um homem, começou a incomodá-la. O assediador Edson Luis acabou agredindo a moça e a deixou desacordada.

Esse episódio ocorrido no Rio de Janeiro é apenas mais um reflexo do machismo, o mesmo machismo declarado pelo parlamentar polonês, o mesmo que move grande parte dos discursos dos políticos brasileiros, que se alastra ainda arregimentando seguidores acéfalos, carentes tão somente de um mínimo de educação e alimentados pela histórica desigualdade de gêneros que massacra e omite às mulheres os direitos iguais.

Hérika Vale

Jornalista, Graduada em Língua Portuguesa , apaixonada por educação,pela cultura do meu sertão e pela boa política. Feminista com "F" maiúsculo ,com causa e propriedade, e colunista do Segunda Opinião.

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Hérika Vale

Jornalista, Graduada em Língua Portuguesa , apaixonada por educação,pela cultura do meu sertão e pela boa política. Feminista com "F" maiúsculo ,com causa e propriedade, e colunista do Segunda Opinião.