A ambiguidade verbal nas narrativas dos canais de tevê não se restringe a esta intinfada moral entre muçulmanos e judeus.
É fenômeno antigo e perseverante a ser analisado sob a perspectiva dos modelos aceitos de comunicação social.
Pelo porte tecnológico dos equipamentos que impõem imagem e som e fatos ou as suas versões, pelo custo operacional dessa parafernália cibernética, essas empresas dependem de quantias substantivas de capital. São, por essa razão, empreendimento público ou de conglomerados empresariais poderosos.
Os que “fazem” a tevê são de outra origem, trazem um DNA diferente no sangue, exibem uma certa deformação ideológica aurida em doses homeopáticas nas universidades onde pouco estudaram, em muitos casos, ainda que houvessem fixado dogmas e certezas absolutas.
Em situações de visível continência precária comentaristas e repórteres deixam cair frases e um certo viés que se chocam com a matéria e com os fatos sob análise. São “atos-falhos” que revelam, entretanto, opinião formada sobre fatos e circunstâncias mantidas sob controle pelo comando editorial da empresa. Como se a ideologia estivesse sob controle precário em frente às câmeras através das quais a realidade perde a força dos fatos para transformarem-se em imagens poderosas de convencimento.
A guerra da Ucrânia, este imbróglio desumano entre levantinos aparentados a que assistimos consternados, esta trágica desconstrução da democracia brasileira sob a sedução de modismos jurídicos e de presunçosas formas de neo-constitucionalismo de um “governancismo” totalitário demonstram com clareza a distância que se interpõe entre os fatos, a notícia e a opinião. A verdade é a primeira coisa a ser afastada na perspectiva do estupro ético e moral inevitável.
O que haverá de restar à audiência indefesa? Calar e aceitar. Ou aceitar e calar?
Uma forma saudável de libertação é ignorar a realidade. Dói menos.