O buraco nosso de cada dia está de volta, marcando a presença nas ruas de cada bairro, nas avenidas centrais ou periféricas, nas estradas vicinais ou estaduais e federais. O buraco é nosso irmão, ou nossa irmã, que buraco não comporta misoginia. Não há surpresa em sua volta. Basta que haja caminhos e que sobre estes caminhos brilhe o sol e caiam as chuvas. Evidentemente também tem que haver carros e prefeitos (e governadores), obras e empreiteiras. E dinheiro, naturalmente.
A engenharia dá sua valiosa contribuição. A lei dispõe que toda obra tem que ter um registro e cada registro de obra tem um engenheiro responsável. E há arrecadação de recursos para organizar e manter instituições capazes de atestar a regularidade da obra e a responsabilidade do profissional. E fiscalizar. Possivelmente os buracos foram incorporados como anexos às boas práticas e aos mais modernos métodos. O buraco compõe a obra, como uma espécie de desdobramento esperado.
No futuro, pesquisadores poderão descobrir que por estas paragens os buracos são inevitáveis. Talvez se identifique algum elemento químico de alta corrosividade nas águas da chuva, quem sabe um efeito sutil perfurante na luz do sol durante o período de inverno, quem sabe o que as pesquisas futuras dirão? Não cabem teorias conspiratórias, dirão os idiotas da objetividade. Buracos são uma conquista cultural, escreverão em longos textos os mais sensíveis intérpretes da nossa alma. É preciso mais do que aceitá-los: cumpre entendê-los e incorporá-los à vida social.
Na próxima eleição os candidatos à reeleição evitarão calmamente explicações mais reveladoras sobre os contratos, os investimentos, os gastos, os resultados. Os candidatos que se lançam contra os prefeitos farão suas insinuações, mas não passarão disso. O tema ficará suspenso até que se defina quem é a nova autoridade e quem negociará os próximos contratos de recapeamento, de reparo, de tapa-buracos, de recuperação da malha viária e de recomposição da via pública – todo esse discurso n melhor português para que tudo continue como está.
E um novo ciclo começará.
Cuidado! Olha a eleição!