O BAR, TRINCHEIRA ÚLTIMA DA RESISTÊNCIA.

HEMINGWAY FEZ MELHOR: OCUPOU O BAR DO HOTEL RITZ COM O FOTÓGRAFO CAPA E DERRUBOU TODA A ADEGA .

Certa feita, recebi neste lugar alguns amigos, ruidosos e inteligentes, como eles devem ser, por requisito estabelecido nesta confraria.
Por aqui colecionamos afinidades verdadeiras e até mesmo algumas discrepâncias, pois que, afinal, nem todas as pessoas são tão inteligentes para compartilhar conosco a mesma opinião. A nossa, de preferência.

Era um sábado, dia consagrado universalmente, desde que foi posta em prática a “semana inglesa”, à esbórnia intelectual e alcoólica. Só os judeus e islamitas guardam esses dias como preceito das virtudes do Torah e do Alcorão. Ainda se arrependerão pelo tempo perdido, que nem Proust se animaria a recuperá-lo.
Posto que era sábado, arquivamos todas as graves intenções, e nos pusemos à espera dos retardatários. Intelectual boêmio não tem compromisso com o tempo. Nem com a verdade, pressuposto de intenções colonizadoras, rejeitadas pelas criaturas liberadas.

Em meio a controvérsias políticas e a dissensos que só o uísque é capaz de liberar, concordamos, mais uma vez, que o Brasil encontrava-se em maus lençóis. Alguns falavam no poder da Previdência divina para nos tirar daquela caminhada condenatória.

Outros, deixavam-se dominar pela conversão da inteligência em militância ativista. Estes apontavam para os sinais de uma revolução prestes a estourar, talvez rebentasse antes de curarmos o efeito daqueles uísques benditos.

Consegui, a muito custo, interromper a altercação generalizada, em meio à qual ouviam-se palavras monicórdias, tipo “fascista filha-da-puta!”, “comuna safado”, “isentão de um figa”. Iam assim os nossos exercícios dialéticos quando consegui, finalmente, arvorado em minhas precedências de anfitrião, deitar algumas judiciosas palavras.

Expliquei-lhes que, naquele reduto, trincheira inexpugnável, tínhamos munição etílica suficiente para resistir ao assalto das forças da ordem, às milícias ideológicas, ao cerco iluminado dos pregadores da salvação, às forças de terra, mar e ar de todas as cercanias libertárias dos Andes, até das FARCs reabilitadas, encarar os anátemas papais se a tanto chegasse a vontade do Criador, enfrentar os caçadores de Ivermectina no tapa, e, “last but not least”, formar com os senadores da CPI do COVID uma quarta frente para a salvação desta terra salve, salve

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.