O Amor romântico e outras ilusões, por LUANA MONTEIRO

Enquanto me sentava no banco de shopping para esperar a hora de um compromisso, observava ao redor quando percebi a confraternização de um casal. Peguei-me a pensar sobre a idealização do amor romântico.

Um rapaz levava uma caixa de presente exuberante. Uma moça esperava ansiosa. Aquela era a cena perfeita para pensar a incansável busca pela felicidade. Tudo parecia muito mágico até chegar o momento da decepção: desavenças, caras feias, mal-entendidos… O namorado, no final das contas, havia errado na escolha do presente. Quanta frustação gratuita de ambas as partes!

Se alguém me perguntar se existe um segredo para a felicidade decerto que preferirei não arriscar responder. Na verdade, é até possível que eu diga, – não existe! Mas se me perguntarem se existe algum caminho para o fracasso direi, – sim! Uma vida pautada em expectativas. Acho que esse é o elemento mais danoso que pode existir em uma relação, seja ela parental, conjugal ou mesmo com o próprio “eu”.

O anseio constante por acontecimentos futuros ou mesmo a esperança depositada na ação das outras pessoas é resultante de um olhar focado somente nos nossos próprios critérios, limites, valores, crenças e etc. E esse caminho leva inevitavelmente para relações opressivas, baseadas na responsabilização dos outros e na frustração.

Parece algo profundo e complicado, mas o único segredo é entender que o seu próximo não é uma extensão sua, nem mesmo se é seu cônjuge, ou filho, ou namorado, ou, ou…

Em uma dessas “derivações” sobre a romantização dos relacionamentos me deparei com o stand-up de uma comediante norte-americana, Amy Schumer. Apesar de não ter gostado muito do conteúdo de sua apresentação me detive em um tema específico, a naturalização de relacionamentos violentos e a identificação dessas relações com o amor. Ela disse: “- se um garoto começa a implicar (e até bater) em uma menina e essa menina reclamar logo alguém vai dizer, – Poxa! Ele está apaixonado por você! E então ela pensa, se ele implica comigo é porque gosta de mim!” Se essa mesma menina na sua adolescência ou vida adulta se questiona sobre seus relacionamentos, dificilmente lembrará de eventos como esse que a fizeram identificar ações abusivas como românticas.

Ao passo que naturalizamos comportamentos violentos, ciumentos e controladores achando que eles são demonstração de afeto, aprendemos a idealizar o par perfeito. E o que é perfeito sequer existe. Aceitamos referencias para nós mesmos e para aqueles com quem desejamos nos relacionar. Nos frustramos. Realizamos um milhão de cobranças, fazemos mil vezes as mesmas projeções de futuro… E a única coisa que volta como retorno é a bendita frustração.

Talvez o narcisismo possa explicar a dupla: expectativa-frustração. O indivíduo narcísico é aquele que não consegue se confrontar consigo mesmo, nem com o outro. Tudo e todos são espelhos que refletem não sua própria imagem, mas uma projeção vazia que tem sobre si. Como ele é incapaz de se enxergar, nas suas próprias características e particularidades, também se recusa a ver o outro. Ele está trabalhado somente sobre as expectativas que tem de si mesmo. Nesse sentido, não só as relação amorosas, mas todas, serão vividas sob um prisma fantasioso e romantizado.

Esse mesmo indivíduo não se abre para o mundo. Não se propõe a conhecer o que as experiências e as pessoas podem lhe oferecer de novo e inesperado. Mas uma coisa ele sabe fazer bem, cobrar dos outro e de si.

Mas o que ele cobra? As realizações das milhares projeções sobre o que seria a felicidade, a beleza, a riqueza, o sucesso… E daí esse indivíduo deixa de lado o que realmente poderia ser fonte de satisfação e felicidade, para correr loucamente em busca de um ideal utópico e adoecedor.

Tenho especial interesse por um livro que trata sobre a importância das decepções, chama-se “A sutil arte de ligar o foda-se”. O título é um tanto agressivo, tenho minhas ressalvas, mas gosto do ponto de vista do autor. Mark Manson, explica que a dor não só é necessária, como é eterna. E a dor da decepção é tão importante ou mais como as alegrias das conquistas. Isso porque a dor vai estar presente em tudo o que nós fizermos das nossas vidas. Cada decisão exige esforços e sacrifícios e traz suas perdas e ganhos.

Pois bem, depois de muito ter me alongado, sigo achando que existem ainda muitos outros fatores para pensar sobre a romantização e “perfeitização” das relações amorosas.

Para muitas pessoas é crível achar que aos vinte anos de idade encontrará seu par perfeito, aos vinte e cinco terá sua carreira profissional bem sedimentada e aos vinte e nove terá seus filhos perfeitos vivendo na casa perfeita com a rotina perfeita. É impossível não esperar uma crise psicológica aos trinta depois de ter depositado todas as expectativas em curtos dez anos.

E se o perfeito não vem? Vem o imperfeito que viverá sobre a culpa da escolha errada. É um ciclo sem fim… Quais são as consequências da romantização das relações? Padrões não alcançados, relacionamentos frustrados, vidas frustradas…

Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.

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Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.