Diz-se de Joseph Fouché ter “criado” a policia política. Talvez não lhe caiba a inspiração originária dessas “muletas” da governabilidade. Mas certamente ninguém conseguirá roubar-lhe a competência que lhe serviu de empoderamento e apoio para criar mecanismos eficientes para manter a ordem social e politica.
Fouché viveu na França, nascido em familia desprovida de abastança, porém temente a Deus e aos Seus desígnios. Foi padre católico e soube usufruir dessa condição, com proveito, durante o Velho Regime. Alcançou as distinções da Nobreza, como duque de Otranto.
A fragilidade de caráter apresentou-se como traço dominante da sua personalidade e condição da veriginosa ascensão que marca a sua vida politica.
Voz influente na Corte de Luiz XVI, acompanhou os movimentos revolucionários, sempre comedido, com a percepção certeira dos ventos que a sopram em ocasiões propícias.
Serviu com abnegação e lealdade, à Revolução Francesa, no Terror, na Convenção tanto quanto ao Diretório, com Robespierre, Danton e Napoleão. A todos traiu, no exercício dos seus enormes poderes, como uma espécie de “ministro da Justiça” ou chefe da policia politica. Tipo Jean Valjean, saído da pena de Viictor Hugo.
Como chefe da “informação”, abriu os caminhos de funcionários poderosos dos governos, séculos depois e deu-lhes o quê fazer.
Egard Hoover, Himmler, Beria, Guevara, Filinto Müller vieram, a seu tempo, como policiais políticos ardilosos e indispensáveis a ditaduras e a governos “democraticos”.
O fascismo, com Mussolini, o nazismo, com as SS de Himmler, a KVB de Beria, com os bolcheviques, serviram-se desses ágeis e pedagógicos instrumentos de governo. Na América Latina esses instrumentos autoritários foram abundantemente usados. Com reconhecido êxito.
Fouché fez dos poderes da policia politica uma arma, de tal forma eficiente que, por conta dos seus mecanismos, manteve-se, empoderado, no controle da força policial e dos registros que comprometiam politicos e governantes. Todos comiam em sua mão, as mínimas intimidades do governo não escapavam à espionagem da sua máquina de decompor dignidades dissimuladas e a honra das pessoas de bem.
O autoritarismo e as intrigas nascidas nas beiradas dos governos foram historicamente a matéria prima da construção pertinaz de um Estado forte. No Velho Mundo, abarrotado de ideias civilizacionais, a ameaça do desastre iminente operou mudanças profundas em favor do autoritarismo.
O fomento ao medo e ao sentimento da insegurança, cartas, planos e estratagemas apócrifos (a Carta Brandi e o Plano Cohen, no Brasil, a propósito) predispuseram a opiniao publica, intimidada, a aceitar a ação de medidas preventivas “necessarias”.
O incêndio do Reichstag é seguramente a marca mais significativa e convincente da manipulação da credulidade de um povo, em face dos poderes totalitários de um novo regime.
Fouché foi um especialista na criação de situações “produzidas” para justificar as ações corretivas enérgicas, violentas — e eficientes.
Fez escola, mundo afora.