Durante todo o seu governo, Lula e Dilma tiveram que negociar os anéis para não perder os dedos. O que lhes rendeu inúmeras críticas vindas da esquerda, seja de partidos da esquerda, seja simplesmente de cidadãos que por terem votado nos candidatos do PT esperavam um governo 100% de esquerda. As pessoas são inocentes ao ponto de acreditarem que, após ter chegado ao poder, o PT poderia ter feito o que quisesse. E se não o fez, é porque não quis. É o tal do mito voluntarista da “vontade política”.
No Brasil de hoje, fala-se muito dos “erros do PT”. Mas esses “erros” são mesmo do PT, devem ser atribuídos unicamente ao PT ou, antes, eles teriam que ser atribuídos à classe dominante brasileira, àquele 0,1 % da população brasileira que detém a metade da riqueza de tudo o que é produzido em nosso país e que traduz esse poder econômico em poder legislativo, judiciário, executivo e, sobretudo, em poder midiático? Será que é tão difícil para as pessoas entenderem (refiro-me às pessoas que votaram no PT e que se dizem desiludidas) que o PT nunca governou sozinho esse país, mas sim junto com a direita?
Agora nós podemos ver a olho nu com quem o PT estava governando. Não é senão isso o governo Temer. Portanto, a questão que nós temos que colocar agora deve ser invertida: como o PT conseguiu fazer tudo o que fez mesmo tendo que governar com esses caras? Ora, o fato de que o governo do PT encabeçava esse governo de coalizão colocava certos limites à atuação da direita dentro do governo, mesmo que essa direita também colocasse limites à atuação do PT. O que vemos agora é essa direita atuando sem nenhum limite.
(Trecho central de artigo de Claudio Oliveira na revista CULT)