(Não) Sorria! Você está sendo manipulado. Por Capablanca

Em 1904, o fisiologista russo Ivan Pavlov ganhou o Prêmio Nobel de Medicina, por causa de suas pesquisas sobre o sistema digestivo de cães. Pavlov descobriu que, como os cachorros, os humanos também têm reações inatas e reações que podem ser condicionadas. Quase todo mundo sabe que ele tocava a sinetinha e entregava comida ao cachorro por dias e dias. Depois, ele tocava a sinetinha e o cachorro já começava a salivar. E fazia o mesmo experimento também com a raiva e o medo do animal, entre outras (digamos) emoções.

Pavlov foi adotado para os seres humanos em vários aspectos da vida em sociedade, por seu saber sobre o comportamento condicionado. A publicidade, por exemplo, usa Pavlov há mais de um século. Refrigerantes que, indiscutivelmente, causam diabetes e obesidade, para citar apenas um caso, são sorvidos em clima de festa e ambiente familiar de alegria – a propaganda condiciona.

Mais de um século depois, Pavlov sai de perto dos canis e invade os computadores e os aparelhos celulares. Um expert norte-americano (Steve Banon) vendeu seus serviços para eleger o presidente dos Estados Unidos (e elegeu) e para tornar vitoriosa uma tese de separação da Reino Unido da Comunidade Europeia (o tal Brexit), com apoio nos dados pessoais de milhões de pessoas que uma empresa britânica (Cambridge Analytcs) adquiriu de uma das redes sociais. Lembram da inexplicável Primavera Árabe? Lembram das Jornadas de 2013? Esse expert manipula as pessoas, expondo-as a textos, imagens e vídeos de forma planejada e repetida e, assim, pode invocar seus instintos mais profundos de raiva, de medo ou outras reações desejadas.

Pois é. As corporações gigantes das redes sociais, experts e empresas especializadas sabem mais sobre o cidadão do que o próprio cidadão. O ingênuo e bem intencionado cidadão, para ter produtos e serviços gratuitos, entrega seus dados, sua identidade, suas emoções, suas rotinas, seus gostos, suas preferências, sem limites, sem interrupções, sem reservas. Torna-se assim uma espécie de alvo.Sem querer ser grosseiro, mas para tornar a ideia mais clara, tornam-se condicionáveis como animais do canil de Pavlov. Ou deveríamos dizer que ele abre mão de sua liberdade? Sim, porque com tanta informação, alguém é capaz de pensar por ele, decidir por ele, escolher igual ou melhor do que ele, antecipar-se a ele. É um mecanismo ao mesmo tempo genial e monstruoso.

Já faz muito que a Psicologia sabe que as pessoas não fazem escolhas racionais. Também se sabe que as escolhas não são individuais ou individualistas. As pessoas fazem escolhas emocionais e para serem aceitas em grupos. As redes sociais, se olhadas apenas por este ângulo (o que é uma injustiça, pois há aspectos outros positivos), são um imenso laboratório pavloviano. Pensado inicialmente e vendido inicialmente ao mundo inteiro como um avanço mágico rumo a democratização da informação e da comunicação, o tal mecanismo já virou a mais poderosa e incontrolável arma de manipulação.

Você se sente incomodado? Você se sente impotente? Ou você nem sente, nem sabe o que está acontecendo e se sente indiferente? Seja lá qual for a sua resposta, fique sabendo: vai piorar. Talvez já seja tarde demais para evitar o pior.

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

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Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.