O governo brasileiro cruzou os braços, fechou os olhos, tapou os ouvidos e calou a boca, ao adotar um programa radical (quase fanático) de não-intervenção na economia, abrindo mão de exercer o papel natural de todo governo de indutor do crescimento econômico, de motor básico da economia e de estimulador dos mercados nas pontas de investimento, produção e consumo.
Mais do que isso, o governo chega a agir contra o crescimento, a induzir a recessão, a estimular o desemprego e conturbar qualquer visão mais otimista. A agenda de reformas desse governo é evidentemente recessiva.
Por partes: a reforma trabalhista está produzindo desemprego como resultado final, além de promover a troca de emprego qualificado por emprego precário, ou seja, trabalho de carteira assinada diminui, enquanto cresce o trabalho intermitente, sem carteira assinada.
A reforma fiscal radical, representada pela Lei de Teto de Gastos, que congela todos os gastos (exceto o de juros, que é o maior de todos) por inacreditáveis 20 anos (ou seja, engessa o governo dos próximos quatro presidentes a serem ainda eleitos), como se previa, não reduziu o déficit, não equacionou a questão fiscal.
No mercado de dinheiro, o governo federal suga o caixa do BNDES para fechar na marra o caixa do Tesouro, secando praticamente a única fonte de financiamento de longo prazo e de baixo custo do empresário nacional (todo mundo sabe que bancos privados não gostam de emprestar, e quando o fazem, emprestam a custo alto, prazo curto e exigem garantias enormes).
Por falar em emprego, o próprio governo federal promove desemprego direto, fazendo enxugamentos brutais nas empresas estatais. Isso mesmo: o governo manda as estatais lançarem programas de demissão voluntária massivos, ou seja, com metas de demissão de milhares de trabalhadores em cada uma dessas estatais. Banco do Brasil, Correios, Petrobrás e Caixa Econômica estão na lista.
Com o governo fazendo cara de paisagem (não tem planejamento, não tem política econômica — o plano e a política é não ter plano, nem política), a única coisa que mantém os empresários tocando seus barcos é velha esperança. As expectativas racionais são, infelizmente, neutras, na melhor hipótese, negativas, não raro. Se em 2015, toda a classe política e toda a grande imprensa apostaram que o novo presidente (o vice da ‘presidenta’) uniria o país e ‘colocaria a economia em ordem’, hoje já se sabe que nada foi feito de positivo – a queda da inflação é o efeito positivo da estagnação da economia ( e isso arrasta a Selic).
Mas, registre-se, até na inflação parece que o governo joga contra. A política de preços dos combustíveis é, para dizer o menos, uma esquisitice, uma aberração, como se houvesse a deliberada intenção de tocar fogo nas expectativas, empurrando a inflação para cima.
Não fosse o colchão de reservas cambiais que os governos anteriores acumularam (mais ou menos 360 bilhões de dólares) e a “equipe dos sonhos” (Henrique Meirelles, na Fazenda, e Ilan Godfajn, no Banco Central) já teria conseguido jogar o país num pesadelo ainda maior.