A eleição de 2018 teve como novidade a chegada de uma direita no momento em que a democracia brasileira se consolidava e uma orientação social democrática parecia ser hegemônica. A direita política, contudo, tentava mostrar que estava residual, como já tinha acontecido com a candidatura de Enéias, que teve votos bastante concentrados e mostrava que ela estava esperando uma oportunidade. Já analisamos anteriormente a candidatura de Collor, com estrutura semelhante à vitória de Bolsonaro. Houve o papel engajado de meios influentes de comunicação, além de setores do empresariado e mesmo setores conservadores envolvidos. A direita também aproveitou um candidato sem partido, mas com popularidade suficiente para empolgar eleitorado também não engajado.
A participação novamente de uma direita na próxima eleição, a de 2022, além de um processo natural numa democracia que se consolida, há uma questão que parece ter bases estruturais.
Nas eleições da década de 1920 e 1930, no século passado, aconteceram realidades semelhantes no aparecimento da direita global. Herbert Marcuse, intelectual alemão da Escola de Frankfurt, na época do Nazismo, observara que “quando o fascismo, finalmente, demoliu o arcabouço liberalista da cultura, aboliu efetivamente, o último domínio em que o individualismo poderia proclamar seus direitos contra a sociedade e o Estado” (MARCUSE, Herbert, Razão e Revolução, 1969, Saga, Rio de Janeiro, p. 369). Esse domínio do individualismo seria, como já afirmou Paulo Guedes e comentamos em outro artigo, é o liberalismo. A questão que encontramos nessa administração é que não se conseguiu demolir o arcabouço liberalista da cultura.
A polarização entre Bolsonaro, que tem investido na radicalização do eleitorado, na polarização, e Lula, ainda com um “recall” significativo de sua passagem pela presidência da República, estimulou Ciro Gomes, concorrendo na chamada “terceira via”, pela esquerda, antecipar estratégia adequada para o segundo turno, com o pressuposto de que Bolsonaro seria descartável. Analisamos no artigo anterior.
A campanha para 2022 agora traz pela direita,o ex-Juiz da “Lava Jato”, Sérgio Moro. A recepção de setores da imprensa, do empresariado e do conservadorismo religioso, e da cultura, foi festiva devido a fragilidade apresentada por Bolsonaro e a rejeição de Lula nesses setores da direita. Assim como na esquerda, também houve a antecipação de estratégias que seriam adequadas no segundo turno, entre os dois candidatos, também aconteceram pela direita. Assim, assistimos estratégias pela direita e pela esquerda por candidatos que disputam seus respectivos eleitorados, mas também os menos engajados, com estratégias variadas. Promete ser uma campanha não apenas importante e competitiva, mas muito didática na construção da democracia brasileira.
O Brasil perdeu relevância como ator político global? Claro que não e, sendo a maior democracia da América do Sul, será observada e acompanhada nesse contexto de construção de nova ordem mundial que prossegue após a queda do muro de Berlim e a derrubada das Torres Gêmeas. O quadro dos ganhadores da Segunda Guerra Mundial que a ONU representou durante a “guerra fria” já foi superado por novas correlações de forças e mudança de configuração. Já não se aposta se o fim da história seja com a vitória global do capitalismo ou do socialismo.
Vale lembrar que as bases estruturais que orientam a dinâmica das relações sociais e internacionais permanecem, enquanto o que muda são as principais questões conjunturais e a correlação de forças. A fortaleza da candidatura de Lula apresentada pelas pesquisas é responsável por essas mudanças.
As gerações futuras esperam mais empenho dessa geração para que se construa um pacto civilizatório mais consistente. Vamos em frente!