Miséria da polarização, por Gilvan Mendes

Vivemos tempos de polarização. É o que se comenta pela mídia e pelas redes sociais. Não só polarização partidária liderada por tucanos e petistas, mas também na sociedade civil com disputas de visões de mundo e ideologias. Alguns cientistas políticos ao falarem sobre esta questão, ressaltam o seu lado positivo. Em uma democracia construída em um país grande e populoso como o Brasil, é saudável existir disputa em relação aos temas quentes da sociedade, mostra as qualidades de uma cidadania ativa por parte da população. Isso sem dúvida é verdade. Entretanto, com o estímulo das redes sociais, o debate público brasileiro se transformou em uma arena de difamação e guerra virtual contra o ”inimigo”, que não é nada mais do que aquele que possui uma opinião diferente. A longo prazo essa situação pode destruir valores importantes para uma civilização democrática.

É claro que seria injustiça colocar toda a culpa da nossa intolerância polarizante nas redes sociais. Antes mesmo do surgimento dessas mídias, a sociedade brasileira demonstrava dificuldade em debater temas complexos, daí surge a famigerada expressão que reza que política, futebol e religião não se discute, e entender o ponto de vista daqueles que pensam de outra forma. Porém, as redes virtuais deram visibilidade para pessoas extremistas que têm como objetivo principal destruir a imagem de quem discorda delas. Os vídeos mais acessados na internet são de sujeitos que ”refutam” outros com muita agressividade, propagando a espetacularização da política. Frases de efeitos valem mais o que argumentos, xingamentos são mais importante do que a leitura de autores consagrados,memes” são mais relevantes do que opiniões embasadas. Tudo isso cria um terreno fértil para políticos demagogos. 

Tolerância,diálogo,entendimento, raciocínio e empatia são palavras que perderam a sua essência com os atuais debates vistos no Brasil. Se continuarmos nessa estrada, a política em nosso pais deixará de ser palco do indivíduo com ”vocação” como diria Max Weber, para ser morada do mais arrogante e falastrão. Se já não for assim.  

Karl Marx escreveu em 1847 um livro chamado ”Miséria da filosofia” como resposta ao clássico Filosofia da miséria de Proudhon. Se visse os vícios atuais do debate público brasileiro, o filosofo alemão certamente reclamaria, com sua original ironia. Contudo, como ele mesmo uma vez ensinou, ”A humanidade só se propõe problemas que é capaz de resolver”. Que assim seja.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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