MEUS MILHARES DE LEITORES E CRÍTICOS (em resposta a Paulo Elpídio)

No café da Livraria Cultura, um sábado de manhã, conversava com o presidente de importante academia de letras. E, sem muito pensar (por razões de saúde evito pensar muito) perguntei a ele como andavam as vendas de livros. Ele meio que arregalou os olhos, parecendo especialmente surpreso com a questão. Passado o impacto, decorridos alguns bons trinta segundos, ele respondeu: por estas terras há mais escritores que leitores. E mudamos de assunto: deixamos as vendas, falamos só de livros. Ficou clara para mim a lição: não misture livros com vendas.

Escrevi e joguei no mundo seis livros, quatro impressos, dois digitais. Meus editores, por delicadeza, certamente, nunca me falaram de vendas. A pessoas que admiro e que são amigas, dei um exemplar — eu ficava falando do livro até elas me pedirem um exemplar, e eu esperava o acréscimo “devidamente autografado”. Meu teatro com os livros terminava aí. Me constrangeria pedir “feedback”, ressalvada aquela dúzia e meia de exceções.

Meus livros não vendidos e não doados estão na minha estante, juntinhos, arrumadinhos, quietinhos. É o seu destino.

Falando sério. Desenvolvi um tipo de solidariedade com os autores que não vendem. Não é culpa deles que seus livros não vendam. Nem culpa há no mundo real da literatura…Depois de alguns dias, a gente se conforma com a dor da demanda zero, e a dor vai declinando. Daí pra se acostumar é rápido. No livro seguinte quase não dói. No terceiro, anestesia total.

Mas, as dores literárias fazem roteiro parecido com as evoluções da libido, mudam de foco, de alvo, pedem circunstâncias. Não vender deixa de doer. O problema é a ausência completa de feedback. Nada, nem dando o livro, nem perguntando se “leu”, nem inquirindo se “teve tempo de folhear”… nada, o ponteiro nem se bole. Feedback zero é mais grave, pior que não vender. Como dói a indiferença!

Tendo lido hoje, quase agora, o texto de Paulo Elpídio sobre livros, corri até minha estante e vi que sou um escritor de sucesso. Tenho leitores e seguidores aos milhares.

E críticos também!

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.