Lucro dos bancos, depressão econômica, falência da política e demonstração de fraqueza militar

“Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.”

Karl Marx

​Disse Marx, no “O capital”, sua obra síntese, que o capital industrial, ao necessitar de cada vez maiores investimentos em capital fixo (instalações, máquinas, tecnologia) em detrimento do capital variável (salários) como forma de fazer face à guerra de mercado, causa e efeito da queda tendencial das margens de lucros na produção de mercadorias, cria uma dependência ao sistema financeiro, gerenciador e detentor do capital fictício (ou ainda para o sistema monetário) que assim ganha importância no contexto capitalista de mercado.

​Como sempre acontece, Marx tinha razão é os exemplos estão aí para qualquer economista burguês poder comprovar empiricamente.

​Entretanto, Marx não teve muito tempo para se aprofundar no tema como gostaria, vez que veio a falecer antes de poder concluir sua obra, cuidadosamente compilada e de certa forma aditada por Friedrich Engels.

​Ele não previu, por exemplo, com a acuidade científica com que sempre tratou os temas da crítica da economia política, que diante da impossibilidade de geração de lucros na chamada economia real (da produção de mercadorias nos setores da indústria, agronegócio e serviços), os bancos seriam os grandes canalizadores das poupanças privadas (empresariais e particulares) para a sustentação da crescente dívida pública estatal, e suas disparidades, com o retorno do capital fictício cada vez mais postergado para um momento de colapso da incapacidade de resgate do principal desta dívida pelos Estados e até os juros.

​Aqui, ressalte-se como vimos alertando constantemente, que ainda que os juros cobrados aos maiores devedores (os países industrialmente desenvolvidos cujo Estado e empresas dos três setores da economia cada vez mais precisam de capital fictício) sejam insignificantes ou até negativos (o que lhes permite empurrar com a barriga suas dívidas e até aumentá-las), num tempo histórico limite este artificialismo financeiro entrará em colapso.

A hora da verdade surgirá, e isto vai ocorrer quando os países pobres declararem as suas insolvências quanto à possibilidade do pagamento dos juros (já que a dívida em si já é impagável), e os investidores e correntistas exigirem a um só tempo o seu dinheiro de volta e constatarem que ele não existe; será quando o capital fictício se tornará tão concreto, realizável e transformado em mercadoria tangível quanto uma coluna de fumaça.

Os lucros estratosféricos dos bancos brasileiros num momento de depressão econômica do país, por exemplo, antes de demonstrar pujança financeira, demostram que tudo não passa de uma grande pedalada contábil que visa esconder uma realidade falimentar de todo o sistema capitalista.

Como se explicar que num período de paralisia econômica e queda do PIB causados pela conjunção de depressão econômica anunciada desde 2019 e paralisia pandêmica de 2020, os quatro maiores bancos brasileiros tenham auferido lucros de 90% em um ano, o 3º maior da história, e tão altos como os do último trimestre cujos números oficiais podemos inferir do quadro abaixo, senão mediante de uma contabilidade artificial de créditos bancários insolváveis no futuro?

No último trimestre
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Itaú Unibanco ……. 7,5 bilhões
Bradesco …………. 5,9 bilhões
Banco do Brasil …. 5,5 bilhões
Santander ……….. 4,1 bilhões
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Lucro dos bancos em três trimestres de 2020 (fase aguda da pandemia)
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2º trimestre ……… 12,1 bilhões
3º trimestre ……… 15,5 bilhões
4º trimestre ……… 20,1 bilhões
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​Entretanto, os lucros dos bancos são meramente contábeis (o que não coíbe a ostentação e vida nababesca dos seus diretores) uma vez que os seus créditos governamentais representam um faz-de-conta no qual os investidores acreditam que são credores solváveis dos bancos;
– e que os bancos fingem que são credores solváveis dos estados;
– e os Estados (principalmente os Estados dos países pobres, que pagam os juros altos retirando do seu povo as verbas recolhidas dos impostos e assim privam o povo do atendimento das demandas sociais) fingem que podem pagar as suas dívidas sempre roladas ou prorrogadas; ainda que somente até a hora da verdade de que falamos acima.

A falência sistêmica ocorrerá simultaneamente à falência dos padrões monetários podres, que sobrevivem graças à credibilidade que lhes atribuem os incautos crédulos mundo afora, conjuminada com a declaração da insolvência do resgate da dívida pública de que ora falamos. Mas Isto tudo somente ocorrerá se, antes disso, uma tragédia bem mais concreta, como o ora comprovado aquecimento global não tornar a vida animal e vegetal inviável no Planeta Terra.

Tudo se resume a uma única constatação: a reprodução do valor pela economia real atingiu um volume de crescimento insuficiente e que aponta para um decréscimo, e que torna inviável a sustentação da mediação social sob a forma valor, e que impede o crescimento necessariamente constante do volume do capital.

Enquanto a necessidade de crescimento da curva de aumento dos capitais válidos preciosa ser permanente e verticalmente ascendente, a capacidade empírica e real de crescimento de capital válido (produzido pelas mercadorias salário e mercadoria tangível e serviço) não acompanha tal necessidade, vez que tendente a zero (Marx).

Esta é a causa da depressão mundial que obedece à contradição expressa na fórmula: a) necessidade crescente de investimento de capital fixo, b) em contraponto ao crescimento do volume de capital variável, c) que acarreta a queda tendencial da taxa de lucro (teoria de Marx).

​Enquanto isto o Brasil é comandado pelo Centrão, grupo de parlamentares fisiológicos eleitos sob o poderio econômico e político nos grotões brasileiros empobrecidos;
– por alguém que finge governar, mas que apenas se preocupa em não ser deposto, praticando a mais infame das relações políticas do “é dando que se recebe”, mas já não mais governa;
– e tutelado por militares que demonstram fraqueza ao colocar um exercício militar conjunto das três armas em local, momento e avaliação de adesão popular impróprios.
Ao invés de uma ameaça, ou demonstração de força, o exercício militar programado para o dia de hoje, é uma demonstração de fraqueza, e representa uma ópera bufa de demonstração de poderio militar numa realidade social que prescinde das guerras tradicionais, e que pretensamente quer aparentar ser a defesa um povo atingido pela miséria crescente causada por um modo de produção social anacrônico e de uma ordem jurídico-político-social vertical elitista e falida a que serve.

Dalton Rosado

Dalton Rosado é advogado e escritor. Participou da criação do Partido dos Trabalhadores em Fortaleza (1981), foi co-fundador do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos – CDPDH – da Arquidiocese de Fortaleza, que tinha como Arcebispo o Cardeal Aloísio Lorscheider, em 1980;

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Dalton Rosado

Dalton Rosado é advogado e escritor. Participou da criação do Partido dos Trabalhadores em Fortaleza (1981), foi co-fundador do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos – CDPDH – da Arquidiocese de Fortaleza, que tinha como Arcebispo o Cardeal Aloísio Lorscheider, em 1980;