Língua e desigualdade no Brasil

No início da colonização havia no Brasil um grande número de línguas indígenas, porém predominavam dois sistemas lingüísticos: o primeiro, de base tupi, originalmente falado pelos índios, denominado língua geral, se difundiu na costa brasileira de São Paulo ao Nordeste; o segundo, português, trazido pelos jesuítas, pelos funcionários administrativos e pelos colonizadores, ainda não tinha um grande número de falantes. Esses dois sistemas persistiram durante um longo período, mas, mesmo os portugueses, que logo se uniram a mulheres indígenas e constituíram família, no recinto doméstico, utilizavam o idioma nativo.

No século XVII, com a chegada dos negros, arrastados da África para o trabalho escravo nas grandes plantações de cana-de-açúcar, a mestiçagem se tornou maior e, como os africanos eram trazidos de diferentes regiões, inúmeros outros idiomas vieram dar sabor ao caldeirão lingüístico já existente. E eles predominavam: o ioruba, o ewe-fon e as línguas do grupo banto, principalmente o quimbundo, que parece ter sido, na época, o idioma usado pela maioria dos escravos na Bahia. Apesar de muitas vezes ter convivido em posição de inferioridade com as línguas indígenas e africanas, o português foi se impondo, mas não se impôs de fato em todo o território. Como as línguas refletem a estrutura social das comunidades que as usam, a língua portuguesa no Brasil reflete as desigualdades da sociedade brasileira…”

(Trecho do artigo “Essa língua que nos une”, de Maria de Lourdes Dias Leite Barbosa, escritora, professora da Uece, Mestre em Letras pela UFC, membro da Academia de Artes e Letras do Nordeste, agraciada com o Troféu Cervantes 400 anos, em 2005, publicado no livro CADERNOS INTERNACIONAIS Brasil Portugal, da Academia de Ciências Sociais do Ceará e Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII, Volume 1, 2012.)

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.