Beatrice Webb escreveu: “Keynes não leva a sério questões econômicas; faz delas um jogo de xadrez em suas horas de lazer.O único culto sério para ele é a estética”. Para Russel Leffingwell, funcionário do Tesouro dos Estados Unidos, que negociou com Keynes durante a Conferência de Paz de Paris em 1919, Keynes “era sempre perverso, travesso, um rapaz brilhante, chocando seus admiradores mais velhos ao questionar a existência de Deus, e os Dez Mandamentos!”Não obstante, para o economista James Meade, que o conheceu como pós-graduado em Cambridge e como funcionário público durante a guerra, Keynes “não era somente um grande homem, era também um homem muito bom”. Para os jovens economistas a Teoria Geral brilhou como um farol luminoso num mundo de trevas. “O que recebemos foi uma alegre revelação em temos escuros”, recorda David Benson-Butt, que foi estudar economia no King’s College, Cambridge, em 1933. “O capitalismo de Keynes continha tudo e mais alguma coisa além daquilo que a geração fabiana procurara encontrar no socialismo: era igualitário, moralmente falando; era largamente aplicável, generoso e alegre…”Outro estudante, Lorie Tarshis, escreveu: “e, finalmente, o que Keynes oferecia era esperança; esperança de que a prosperidade pudesse ser restaurada e mantida sem campos de concentração, execuções e brutais interrogatórios…”
…observou seu amigo Oswald Falk, “desta forma — a despeito das pistas falsas — captava a marcha dos eventos mais rapidamente que os outros”. Além disso, era um notável frasista, usando deliberadamente as palavras para livrar as pessoas de seu torpor mental. Não obstante, “uma vez alcançados os objetivos de poder e autoridade, não deveria haver mais espaço para licença poética”…
Keynes foi um produto das decadentes convenções vitorianas. Era isso que tornava a questão comportamental, social e pessoal, tão central para ele.
…E Keynes começou a questionar sua crença antiga. “Começo a ver — disse a Virginia Wolf em 1934 — que nossa geração – sua e minha – deve muito à religião de nossos pais. E os jovens… que são criados sem ela, nunca aproveitarão tanto avida. Eles são triviais: como cães no cio. Tivemos o melhor de ambos os mundos. Destruímos Cristo mas tivemos os seus benefícios.”
…Bertrand Russel escreveu que “o intelecto de Keynes foi o mais brilhante e o mais claro que já conheci. Quando discutia com ele, parecia ter minha vida nas mãos e raramente terminava sem me sentir meio tolo”. Outros, como Kenneth Clark, achavam que ele usava seu brilhantismo com demasiada prodigalidade: “nunca apagava seus faróis”.
A anedota dizendo que quando há cinco economistas reunidos há sempre seis opiniões, sendo duas de Keynes, já era conhecida durante sua vida. “E as acusações de capricho e incongruência muitas vezes feitas contra ele significam muito pouco”, escreveu Kingsley Martin, “já que sua mente trata ágil e um tanto jovialmente das dificuldades práticas, apresentando sokluções possíveis, uma atrás da outra, de um modo aterrador e desnorteante para os cautelosos e solidamente arraigados .”
A ironia, conforme observou Kurt Singer, foi que alguém que “parecia encontrar o repouso somente no movimento…(pudesse) elaborar e descartar em uma tarde quantidade memorável de esquemas conceituais igualmente atraentes”, pudesse legar ao mundo “o Livro de uma nova fé”.
(Trecho de um dos capítulos do livro Keynes, de Robert Sidelsky, editora Jorge Zahar, 1999, sobre John Maynard Keynes, autor do livro The General Theory of Employment, Interest and Money)