A economia precisa de motivação para crescer. Ao contrário do que muita gente pensa, o crescimento não é mais o resultado natural de qualquer economia. No passado até que foi, crescer era quase inevitável. Imaginem que o Brasil foi um dos países que mais cresceu entre 1946 e 1970. Pouco se fala sobre isso, porque a pergunta vem imediata: a quem se deve tal desempenho? Dificilmente o crédito deixará de ser dado a Getúlio Vargas, principalmente, embora o período marque as “três décadas de ouro”. E Juscelino Kubitschek também tem sua parcela de contribuição (cá pra nós, até o Delfim tem). Vocês notaram? A gente fala de crescimento econômico e logo vêm os governos à nossa mente. Pois é, são os governos que puxam e empurram o crescimento, aqui, ali e acolá.
Numa escala mundial, as ondas de expansão econômica são provocadas pela saúde e pela exuberância dos maiores protagonistas. Até pouco tempo, os Estados Unidos eram a locomotiva da economia planetária. Agora, estão dividindo com a China. Por isso, por mais estranho que seja, o mundo torce pela saúde dos EUA (e agora também da China).
Voltando à motivação. Os norte-americanos exploraram a novidade do mercado japonês, quando o Japão era o “milagre”. Depois, embarcaram na canoa dos “tigres asiáticos”. Em seguida, começaram a cevar e cativar a China. Também se apoiaram na onda de globalização (o discurso que convencia os pequenos e os pobres a abrirem seus mercados) e logo depois na tecnologia da informação.
Os governos norte-americanos são muito efetivos e eficazes quando se trata de defender o interesse de sua economia, de suas empresas e de seus negócios. A diplomacia do pós-guerra assegurou o Japão como um mercado cativo, depois a diplomacia de abertura e aproximação captou a parceria chinesa, quando ninguém sequer olhava para a China. O discurso da globalização foi apoiado e financiado pelos órgãos criados desde 1944 em Bretton Woods (FMI, BID, Banco Mundial), controlados por Washington. A tecnologia de informação está muito além e acima dos geniais Bill Gates, Zuckerberg e Steve Jobs – foi um projeto elaborado e desenvolvido nas entranhas da melhor engenharia e dos discretos organismos de segurança do governo ianque. Mais recentemente, o atual governo quebrou todos os paradigmas da teoria econômica e inundou o sistema bancário com um curioso “quantitative easing” (trilhões de dólares repassados aos bancos a custo zero ou quase).
Em suma, são os governos que fazem as manobras e manipulam as ferramentas necessárias ao crescimento e ao desenvolvimento. Quando os gringos discursam dizendo que o Estado só atrapalha, que o Estado deve afastar-se da economia, eles apenas praticam o “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. A economia que se diz a mais liberal do mundo é onde o Estado mais intervém.
Como o Estado faz isso? Internamente, manipulando as três ferramentas de que dispõe: taxa de juros, taxa de câmbio e política fiscal. Um governo (qualquer governo, de qualquer país) pode manipular os três para proteger os interesses nacionais ou para atender o interesse estrangeiro, para crescer ou não.
Se quer produzir crescimento, deve ter política fiscal mais frouxa. Se quer frear crescimento, fazer arrocho fiscal ajuda e muito. Se quer importar mais e exportar menos, segura a taxa de câmbio artificialmente valorizada. Se quer exportar mais (mais empregos locais) e importar menos, mantenha o câmbio desvalorizado. Quer estimular o crescimento? Baixe as taxas de juros, amplie o crédito. Quer frear o crescimento? Aumente os juros e dificulte o crédito. Isso é o que importa, isso é que mostra que interesse está sendo defendido – o nacional ou o estrangeiro, o crescimento ou a estagnação, estimular o setor A ou setor B da economia…
De um modo geral, as coisas se desenrolam de maneira simples. Eventualmente, há mudanças e é preciso ficar atento aos pontos de inflexão. 2007/2008 foi um ponto deste tipo, desenhando-se uma guerra de câmbio, e o Brasil até que se saiu bem inicialmente. Agora, estamos talvez noutro ponto de inflexão (se é que ele não começou meses atrás). Uma novidade está se impondo: os juros negativos por parte dos bancos centrais europeus e do Japão. A onda pode aumentar e o tamanho do juro negativo pode subir de um para três por cento. E o curioso: isso está na contramão do que faz o governo dos Estados Unidos, que está aumentando os juros (nem vou falar do Brasil). Como diz o título do filme, alguém tem que ceder.
O sistema bancário está de olhos abertos e orelha em pé, pelos eriçados, dentes trincados. Eles não estão acostumados a serem surpreendidos. Os governantes não podem reagir fazendo cara de paisagem.
O Brasil? O Brasil ficou parado na apuração das eleições presidencais de 2014. Deus sabe porquê.