João Dória Júnior: como distinguir o falso do verdadeiro na administração pública, por Osvaldo Euclides

A cidade de São Paulo é um desafio para qualquer gestor, é preciso reconhecer. Há questões técnicas complexas a exigir estudos, debates e decisões delicadas. Uma das três maiores vitrines da administração pública do país, verdadeiro trampolim para as outras ainda maiores, ela impõe permanente negociação política com partidos, com outros poderes e com a opinião pública. Gigantescos problemas e interesses encontram também inevitáveis limites financeiros. Ser prefeito de São Paulo é uma missão cheia de perigos. Alguns prefeitos viraram governadores, presidentes ou senadores. Outros saíram de lá para o ostracismo.

João Dória Júnior cumpriu já os seus primeiros noventa dias como prefeito. Bom tucano, tornou-se rapidamente assunto da grande imprensa, faça o que fizer, errando ou acertando. Tem o talento natural de saber fazer-se notícia. Pinta muros, veste-se de gari e varre ruas, coloca o chapéu de algumas grifes nacionais ou estrangeiras, arenga com cidadãos e adversários políticos, usa as redes eletrônicas com enorme competência, multa secretários impontuais.

O paulistano deve estar satisfeito com a desenvoltura do novo prefeito. De um modo geral, costuma-se dar ao gestor uma tolerância de uns seis meses antes de começarem as cobranças mais diretas. Nesse período, tudo ou quase tudo pode ser perdoado. A impaciência vai se construindo aos poucos, assim como a confiança mais profunda e a admiração justificada.

Como já se fala que o prefeito tucano já se qualifica para ser candidato ao governo de São Paulo ou à presidência da República, convém ficar um pouco mais atentos (paulistanos, paulistas e brasileiros) ao que seja verdadeiro e falso na administração da capital paulista. Agora, isso pode interessar a todos.

Os adversários de Dória dizem que ele não faz gestão séria, faz apenas um tipo interessante, mas vulgar, de marquetagem política. Seus aliados garantem que ele fará uma gestão competente, inovadora, revolucionária.

Como, agindo de boa fé, distinguir o falso do verdadeiro?

Há uma resposta, um caminho fácil e direto para esta questão.

Há uns seis anos, um movimento de cidadãos paulistanos, sob a liderança de uma ONG, salvo engano de nome Nova São Paulo, propôs à Câmara de Vereadores uma lei que impunha aos futuros prefeitos eleitos uma obrigação óbvia e simples: nos primeiros 90 dias do mandato o novo Prefeito tem obrigação de apresentar formalmente, detalhadamente, com números, prazos, índices, custos e respectivos sistemas de medição, monitoramento e contrôle um Plano Global com todas as suas metas, projetos, políticas e programas e os respectivos resultados esperados, devendo prestar contas de cada item com frequência trimestral. Isto, sim, é transparência.

A lei foi feita de maneira que o Prefeito não possa levar o cidadão “no bico”. O plano de metas é feito com o prefeito no comando da Prefeitura, já de posse dos números reais, seus recursos materiais e humanos e seus limites. Não se trata dos compromissos de campanha e não há obrigação legal de que um tenha vínculo com o outro. O prefeito é livre até para esquecer no seu Plano os tais “compromissos de campanha”. A forma de prestação de contas não dá espaço para o “lero-lero”, é preto no branco.

Pronto. É assim, seguindo a lei e medindo o real desempenho do prefeito em todas as áreas que o paulistano, o paulista e o brasileiro poderão saber o que é falso e o que é verdadeiro nesta nova e curiosa figura da vida pública, o prefeito eleito João Dória Júnior. Nas prestações de contas ficarão evidentes os resultados positivos e os negativos, lá não há espaço para marquetagem.

Vamos observar se a imprensa paulista vai cobrar do novo prefeito (tucano) o que ele mesmo estabeleceu como resultado de sua gestão. Na gestão anterior (petista), este trabalho de cobrança foi feito com rigor.

Aliás, perguntar não ofende: por que as outras capitais não copiam este bom exemplo de São Paulo?

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.