Era o mês de fevereiro do ano de 1956. O presidente Juscelino Kubitschek foi eleito e toma posse. No segundo dia de governo, faz uma reunião ministerial e anuncia com riqueza de detalhes o seu Plano de Metas. No dia imediatamente seguinte, o Plano é publicado no Diário Oficial.
Apesar de todas as limitações, crises, tentativas de golpe, Juscelino estava dando concretude à promessa de campanha: “vamos fazer 50 anos em 5”.
Essa lembrança me ocorreu ao observar e refletir minimamente sobre o estranho comportamento do presidente Jair Bolsonaro, seis décadas depois. Ele simplesmente se declara despreparado, diz que não entende nada de economia e que este assunto deve ser resolvido pelo ministro Paulo Guedes, desde a campanha conhecido como Posto Ipiranga.
Dez meses de governo estão se completando e não há um plano definido, uma estratégia traçada. Jornalistas e economistas repetem que o projeto é liberal e que a prioridade são as reformas e as privatizações. Nada de metas, nada de objetivos, nada de cronogramas, nada de detalhar as propostas de reformas e transparência para as transações de entrega do controle das estatais.
Nem mesmo a única reforma que foi encaminhada e está prestes a ser aprovada no Congresso, a Reforma Previdenciária, parece um evento bem sucedido. O Tribunal de Contas da União diz que o déficit continuará e que a reforma só o abate em algo como vinte por cento. E o próprio ministro Paulo Guedes não sossega enquanto não meter na mudança previdenciária a Capitalização Individual.
Ontem a imprensa noticiou vagamente que a equipe do ministro Guedes está avaliando se divulgará antes do fim do ano a ideia básica da reforma tributária.
Enquanto não há rumos e planos e projetos, nem mesmo das reformas, o ministro está executando a ideia que divulgou em Nova Iorque: “Vamos vender tudo”. E ligeiro.
JK prometeu e pode-se dizer que cumpriu (ainda que de forma incompleta e imperfeita) a promessa de campanha: avançar 50 anos em 5. Paulo Guedes vai na mesma proporção, só que para trás.