A imprensa livre do dinheiro do poder público e das estatais: seria melhor ou pior? – Parte 11 – por Osvaldo Euclides

A maior aberração do debate presidencial feito na televisão é formato do próprio debate. O povo brasileiro foi acostumado à força com a péssima qualidade do jornalismo político de TV, na medida em que todos os canais fazem jornalismo medíocre (e a população já nem se dá conta disso). Sim, à força porque o telespectador não tem opção. Zapear (trocar de canal) não é opção, porque todos os canais agem da mesma forma, praticamente não há competição (o ranking é o mesmo há décadas).

Onde estão as aberrações?

A primeira aberração é o número de debates de cada canal de televisão. Cada rede de televisão vai fazer um debate em cada turno, só. Ora, esta é uma eleição importantíssima. O presidente da República será escolhido. Dois terços do Senado podem mudar. E toda a Câmara dos Deputados pode ser renovada.O que essa estratégia de cobertura diz da televisão brasileira e de sua convicção democrática?

Uma segunda aberração é o horário do debate. Dez da noite é muito tarde para quem busca audiência alta. As próprias televisões sabem muito bem que depois das nove e pouco da noite a audiência despenca. Não é à toa que o ‘horário nobre’ fica entre sete e nove da noite. A escolha do horário do debate tem consequências, e ninguém de sã consciência dirá que esta é uma decisão ingênua ou bem intencionada.

Uma terceira aberração é o tempo de que dispõe cada candidato. O tempo máximo de cada participação foi definido em um minuto e meio. Vamos falar sério. Isso é tempo para anúncio de sabonete (planejado, criado, produzido e gravado previamente), não para discutir problemas e propostas para um país. Essa também não é um tipo de escolha impensada e inconsequente.

Uma quarta aberração é fazer um debate de mais ou menos duas horas com mais de um candidato. Duas horas seria o tempo indicado para um debate com cada candidato, em respeito ao cidadão-eleitor, em respeito ao processo eleitoral e em respeito ao próprio candidato. E em respeito ao país. Esta seria uma duração adequada para uma exposição e para um questionamento realmente jornalístico, com um mínimo de abrangência e profundidade.

Uma quinta aberração é a própria participação de jornalistas. Pequena, manietada, pouco diversa, toda orientada para a linha editorial da própria emissora para quem trabalham. E sem direito a réplica e tréplica. Assim, talvez nem se possa dizer que é um debate e que é jornalístico.

Uma sexta aberração é o enquadramento das perguntas dos jornalistas. Não foi educação,nem saúde, nem segurança, nem mesmo desenvolvimento ou emprego a questão mais levantada pelos profissionais de imprensa: foi o défict fiscal. Não há nada mais raso, falso e fraco que a convicção do jornalista brasileiro médio sobre este tema, que só é abordado por um ângulo. A imprensa brasileira parece ‘fechada’ com o assédio aos candidatos nesta questão. E ao agir assim, bloqueia, esfria e constrange o debate de todas as outras, como se tudo fosse questão de dinheiro, beirando o fanatismo, se não for coisa pior.

É uma pena o que a imprensa está fazendo com a democracia brasileira, nossa tenra plantinha. E ela tem condições de fazer muito melhor, com ou sem dinheiro do poder público e das estatais.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.