Aaron nasceu no dia dezenove de agosto de 2019 ao meio dia e trinta e quatro minutos. Eu havia desejado muito, durante a gestação, que meu parto acontecesse em casa, no conforto e na segurança do meu lar. Mas desenvolvi diabetes gestacional, o que caracterizou uma gravidez de risco e determinou o hospital como o lugar mais viável para o nascimento do meu filho.
Durante a gestação comecei a traçar um roteiro do que eu desejaria para minha vida dali em diante, afinal me via com uma das maiores responsabilidades que alguém pode receber, cuidar de uma nova vida. Como uma dessas decisões, me veio a escolha pelo parto normal.
Comecei a pesquisar incessantemente sobre o assunto. Todas as informações me levavam para um lugar em comum, os benefícios do parto normal para a mãe e para o bebê. Por ser uma via natural o acontecimento envolve mães e filhos ativamente no processo do “nascer”. Juntos, o corpo da mãe e do bebê, produzem uma série de hormônios que só são vivenciados na mesma intensidade em um parto ativo.
Bastante curiosa com todo o processo cheguei a conversar e a coletar relatos de parto de mais de uma dezena de mães. Nessas histórias narradas pelas próprias protagonistas alguns temas eram muito constantes: a violência obstétrica exercida pelo corpo médico e a indução que hospitais, profissionais da saúde e a sociedade no geral fazem ao parto cesariano, apresentando-o como uma alternativa indolor para o nascimento de uma criança.
Acho importante frisar que nenhum processo de cisão, – de separação – como é o nascimento de um filho, vai acontecer isento de dor. Dói fisicamente e emocionalmente não importa em quais condições essa mãe está dando à luz ao seu filho. É natural que a dor aconteça. São muitas mudanças físicas e psicológicas que chegam de uma forma avassaladora. Mas o nascimento não é só dor. Ele é um caminho cheio de percalços que nos leva para uma grande realização.
O que machuca profundamente e deixa sérias marcas é o desrespeito sofrido no corpo e a impotência que ficamos diante do protocolo médico. Não poder decidir sobre um dos momentos mais importantes da vida, o nascimento de um filho, é um violência muito grave e ocorre constantemente dentro dos diferentes hospitais no nosso país.
A violência obstétrica acontece em diferentes e variados níveis, mas se caracteriza principalmente pelo desrespeito às mulheres e pela desautorização de suas vontades.
Como fugir dessa realidade? Eu sempre me perguntava. Aaron nasceu de parto normal em um hospital público. Todo o processo para seu nascimento demorou quase quarenta horas.
Acredito que ficar à mercê dos conhecimentos de outrem é a barreira que autoriza aqueles que detém o poder a que façam o que bem entendem. Munir-se de conhecimento é a principal estratégia e nesse momento não é diferente. Estar bem informada e buscar a ajuda certa contribuiu diretamente para possibilitar que a minha vontade prevalecesse.
Essa é a humanização que nós buscamos encontrar. Que os indivíduos possam enxergar nos demais a dimensão humana, olhando para além do protocolo, além do prontuário. E assim garantir o bem-estar em um momento que é tão difícil, desafiador e grandioso. Humanize-se! Humanize um parto.