A violência urbana é um dos grandes males do Brasil contemporâneo. Em praticamente todas as grandes cidades brasileiras reina um sentimento de insegurança e de medo. A origem da agressão física entres seres humanos é longa e vários pensadores refletiram sobre isso ao longo do tempo, alguns focalizando a natureza cruel própria do homem, outros buscando causas em questões sociais como desemprego, pobreza e situação econômica. Thomas Hobbes, sem dúvidas, se enquadra nesse primeiro grupo. O filósofo inglês postulou sobre o Estado Leviatã e o contrato social baseado na sua visão sobre os conflitos, eles existem graças à própria natureza humana que obriga o indivíduo a agredir outras pessoas para não ser agredido, o estado de natureza animalesco e agressivo, nunca saiu de nós. Segundo essa interpretação, viver em sociedade é se arriscar a ser ferido ou morto constantemente.
Os tristes fatos brasileiros parecem endossar Hobbes. Seja na escola, no trabalho ou até mesmo perto de casa, estamos sujeitos a sermos vítimas da desenfreada violência que cada vez mais se racionaliza, enquanto que o poder público não tem forças para promover uma política de segurança razoável e decente, sem cair na exaltação do poder policial, que ignora o fato de que o problema da violência urbana não é tão simples para ser resolvido somente aumentando o aparato repressivo. Esse impasse no tratamento dessa questão é cruel com o cidadão comum. Essa realidade é especialmente favorável para políticos extremistas e demagogos.
Hobbes era duro no exame e no remédio. Se os seres humanos são naturalmente propensos à agressão física e ao caos, uma sociedade só irá desenvolver harmonia e fraternidade se tiver um Estado absoluto, que reprima e controle tudo e todos. O século XX mostrou que regimes que possuíam essa inspiração desembocaram em ditaduras cruéis, que ao invés de supostamente proteger seus cidadãos da violência humana, a promove extensamente. A ditadura militar brasileira mostrou muito bem isso. Assim como os países vitimas das disputas entre EUA e URSS, que eram obrigados a escolher a qual ditadura se submeter , uma de matriz soviética ou americana.
Nesse período de turbulência que vivemos, nada melhor do que recorrer as análises de um autor clássico como Thomas Hobbes. É claro que parte das suas interpretações não mais se encaixam no mundo em que hoje vivemos. Entretanto, seu modo de entender as ações humanas continua instigante e revelador, apontando para os desafios de se conviver em uma sociedade com múltiplos interesses em cena. Atualmente, não precisamos de um Estado todo poderoso e controlador como pensava Hobbes, mas sim de um grande projeto democrático de segurança pública, sem cair no discurso fácil e retórico.