A violência é atributo essencial à condição humana.
Nenhuma onda civilizatória, desde que o bicho homem foi posto sobre o planeta, mudou a índole desta obra-prima da Criação de Jeová.
É verdade que algumas mudanças de caráter ocorreram e mudaram certas práticas no convívio de homens e mulheres, ao longo da evolução das espécies.
Apuraram-se os desvios da natureza desses atores, mas não os seus ímpetos. Nem os seus valores ancestrais. Certamente, nada mudará, apesar do esforço hipocrita das religiões e dos ensinamentos morais.
Não porque o Homem tenha sido modelado segundo a imagem de Deus (não teria sido o contrário?), mas não há porque alimentarmos esperanças: este experimento divino não deu certo, o aplicativo usado para a criação do Homem e da Mulher e de todas as variantes de gênero, era inadequado.
Desde que deixou a sua alimentação frugal — homem e mulher eram veganos, na origem mais remota. Convencidos a assumir a condição de mamífero, Adão e Eva, na versão judaica (vejam no que deu), despertaram todas as taras que Jeová tentara esconder dos olhos dos humanos. A síndrome da carne aprofundou hábitos dissimulados e despertou ímpetos guerreiros. Nasceu, assim, o bravo homem guerreiro, na versão polivalente de Átila, Gengis-Khan e Clóvis, Lampião e Mussolini.
Os brasileiros foram mais prudentes, desde que tomaram conhecimento da formulação da imagem do “homem cordial”, desconstruída por Sérgio Buarque de Holanda.
Tornamos-nos criaturas pacíficas, dadas a relaxações de caráter — uma certa frouxidão ancestral — aquelas do jeitinho do “Pedro malasarte” brasileiro.
Pois estas criaturas,cheias de esperteza, inventaram a guerra para exercitar a sua cupidez e a sua destreza em matarem-se uns aos outros, e apropriarem-se do que não produziam.
No início, guerrear trazia alguns riscos, sobretudo os de morte contada. Daí, o passo seguinte foi inventar as guerras campais, nas quais as criaturas se matavam sem ter contato físico direto. Vieram as tropas com bandeiras e tambores dispostas em campo aberto, com a benção dos estandartes da fé.
Depois, as trincheiras da primeira guerra, quando era possível matar o inimigo sem manchar-se com o sangue alheio. Escolhia-se em quem atirar, sem preferência alimentada. Viver ou morrer era obra do acaso. Tudo a seu tempo. Sem remorso ou arrependimento.
A bomba H eliminou, pir sua vez, qualquer contato físico ou filosófico: inventou-se a morte à distância, honesta, limpa e definitiva. Sem estorvos ideológicos ou dialéticos.
Pois agora um bando de tresloucados habitantes do deserto resolveu reinventar a guerra tradicional, na ponta das falanges sob l signo do Levante. Saudades do passado remoto, daquela sensação de ver cabeças rolar na lâmina de um facão bem amolado.
No ataque de 2 de setembro, surpreende como progridem os novos-velhos guerreiros pela Faixa de Gaza, aos berros, a atirarem à toa, fritando e talhando com uma enorme vontade de tornarem-se mártires. A gritaria assusta mais do que as barbas hirsutas dos knipers das areias.
Há quem, neste terreno minado de novas táticas guerreiras, pretenda, entretanto, que sejam estabelecidas regras e proibições para quem opta pela guerra.
Uma guerra regulamentada, pedem os guerreiros.
A mídia corrige os comandos militares, comentaristas da CNN discutem sobre questões táticas e operacionais. Enfim, uma multiplicidade de estados-maiores a traçar rotas de avanço e de fuga, que fariam inveja a Alexandre, o Grande.
Finalmente, uma guerra democrática, respeitosa do estado de direito e das garantias jurídicas.
Esculhambaram a guerra. Todo muito mete o bedelho e dá palpites. Nestes termos. é melhor radicalizar — e negociar a Paz…