Folha diz que transparência é como o método científico: reduz erros e aprimora gestão

A decisão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de classificar como ultrassecretos centenas de documentos relativos ao metrô, aos trens metropolitanos e até aos ônibus intermunicipais é, sob todos os ângulos, indefensável.

A medida, revelada por esta Folha, configura um golpe contra os princípios da publicidade e da moralidade da administração. O vexame aumenta quando se recordam os escândalos envolvendo licitações relacionadas ao transporte sobre trilhos em São Paulo.

Papéis considerados ultrassecretos –o grau mais elevado permitido pela Lei de Acesso à Informação– ficam sob sigilo por um período renovável de 25 anos. Em teoria, reserva-se tal carimbo a casos excepcionais, que impliquem risco à segurança do Estado ou da sociedade, ou que possam comprometer nossas relações internacionais.

Difícil imaginar como a divulgação de projetos executivos para a construção de linhas, estudos de viabilidade e relatórios de acompanhamento de obras –para não falar de vídeos do programa “Arte no Metrô”– poderia ameaçar a integridade territorial do país ou colocar usuários em perigo.

Admita-se, por hipótese, a alegação inicial do governo paulista de que o sigilo decretado se deve unicamente à preocupação de evitar que pessoas “mal-intencionadas” conheçam detalhes do sistema metroferroviário.

Ainda assim, seria um erro. O princípio da transparência nos atos da administração pública não serve apenas para facilitar o controle –o que já bastaria para justificá-lo.

Ele existe também para aprimorar a própria gestão, ao permitir que cada projeto seja submetido à crítica de especialistas independentes, num processo de redução de erros que guarda semelhanças com o método científico.

Em reação à notícia, o governador saiu-se com uma versão tucana do “eu não sabia”.

Disse que a decisão de classificar os documentos como ultrassecretos, tomada no ano passado, não partira de seu gabinete, mas da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, e que já havia ordenado sua reavaliação. Serão formadas comissões técnicas para tal propósito, que podem levar um mês para chegar a um parecer.

Prazo mais exíguo foi fixado pelo Tribunal de Contas do Estado para esclarecimentos sobre o episódio. Conforme requerimento da corte, o governo paulista deverá apresentar em cinco dias informações como “a descrição da situação fática concreta que justificou a medida [a decretação do sigilo]”. Será interessante conhecer as repostas.

(Íntegra do editorial “O segredo do metrô”, da Folha de S. Paulo

 

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SEGUNDA OPINIÃO é um espaço aberto à análise política criado em 2012. Nossa matéria prima é a opinião política. Nosso objetivo é contribuir para uma sociedade mais livre e mais mais justa. Nosso público alvo é o cidadão que busca manter uma consciência crítica. Nossos colaboradores são intelectuais, executivos e profissionais liberais formadores de opinião.

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