“EU” POÉTICO *

 

DESASSOSSEGANDO-ME PESSOANAMENTE:

“Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso –

o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema,

o universo objetivo.”

 

ARRISCANDO-ME, COMO SE POETA FOSSE,

E DEDILHANDO SOFREGAMENTE UMA LIRA INVISÍVEL:

 

I – MÍNIMO

ESTRESSE

Como tratar o estresse?!

Eleve a Deus uma prece.

Agradeça-o, por viver,

Por ser e até por ter…

Por sonhar e por sorrir.

Um novo dia virá,

Um novo sol brilhará…

Renasça para o devir.

 

II – ANELAR

E…

… no deslumbramento lírico, romântico, poético dum’argêntea

noite de lua,

taciturno, solitário e vazio, eu vagueio a esmo pela mesma e

sempre rua:

silenciosa, cúmplice, enigmática, fria, única e deserticamente

nua…

ainda impregnada na retina – saudades! – a última bela imagem

tua.

Em meio a tantas outras que cintilam no límpido e imenso azul

do céu,

o realce duma estrela a espargir um intenso brilho que mais parece

véu…

Surpreendo-me com a oferenda edênica do portal do Amor:

maçã e mel!

Ela: escultural, sensual, insinuante, provocativa, irresistível.

[Ato infiel!].

[Ah!] Traio.

[Oh!] Liquefaço-me!

[Ah!] Reproduzo-me!

[Oh!] Arrependo-me!

Gota

cru

el

!

 

III – MÉDIO

SIMPLESMENTE MULHER

Às mulheres que são a razão maior da minha existência:

Minha singela e sincera homenagem pelo

Dia Internacional da Mulher.

 

Mulher, mulher!

Nada me alimenta, me nutre e me sacia mais

que o seu deleitoso favo.

Nada me estimula e me excita mais

que o seu inefável e benfazejo travo.

Nada me humaniza e me enobrece mais

que o prazer de ser o seu escravo.

Nada me persuade e me convence mais

que o seu senso de ética! Bravo!

 

Mulher, mulher!

Nada me encoraja e me favorece mais

que a sua persuasiva cumplicidade.

Nada me provoca e me consome mais

que a sua refulgente sensibilidade.

Nada me fascina e me comove mais

que a sua terna e invejável simplicidade.

Nada me apraz e me contagia mais

que os seus ensejos de irradiante felicidade.

 

Mulher, mulher!

Nada me apetece e satisfaz mais

que a ambrosia que, generosa, põe-me à vista.

Nada me instiga e me atrai mais

que o seu doce e irresistível poder de conquista.

Nada me escraviza e me encanta mais

que o seu inimitável pendor de artista.

Nada me embriaga e me entorpece mais

que você: ó rara e inebriante ametista!

 

Mulher, mulher!

Nada eu conseguiria ser…

Nada eu conseguiria ter…

Se não fosse você!

E isto é o que é.

Se o mundo é homem,

A vida é mulher!!!

 

IV – INDICADOR

EM VOO VÃO

Se o pássaro, desencantado com a vida vã, voa…

O olhar fito no nada, vai voejando por aí afora,

ao deus-dará, sem rumo, sem qualquer destino,

e até sem um mínimo de apego ao velho ninho,

vai, seguramente, experienciar um voo vão, à toa,

sem noção do ontem, do amanhã nem do agora;

vai sofrer a dor, profunda e cruciante, do desatino;

vai merecer, sim, morrer tão solitário, tão sozinho.

De igual talante, no peito meu um bater, que soa

em um ritmo em cadência (com pressa, embora!),

de um velho coração, opresso e sem descortino,

desesperançado, em prantos, mísero de carinhos.

N’alma, em contraponto pois, o sonho que destoa:

o desejo que projeta a vã esperança de outrora,

que recria, sob um céu de anil, um tão cristalino

horizonte – confiável: com aprumo e com alinho.

Alma e coração

imitam o pássaro sem Norte:

em desafio à própria morte,

em voo vão.

 

V – POLEGAR

OUTROS LOUVORES

O que seria da rosa, se não desabrochassem tantas outras

odoríferas flores?

O que seria dos amantes, se não professássemos outros

prazerosos amores?

O que seria do alívio, se não nos afetassem indesejadas e

perturbativas dores?

O que seria do perfume, se não nos incomodassem fétidos ou

pútridos odores?

E da maçã edênica, se o amor não reverberasse entre

obsequiosos pecadores?

E do favo de mel, da uva em cacho, se não nos permitíssemos

outros sabores?

E do cinza ou do marrom, se não produzíssemos outras

múltiplas belas-cores?

E dos poetas imortais, se não efervescesse a criatividade dos

geniais prosadores?

Então, por que destruir a vida, se nada nos custa ser seus

impávidos construtores?!

 

DESASSOSSEGANDO-ME PESSOANAMENTE:

“Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos

em linguagem que ninguém emprega,

pois ninguém fala em verso.”

 

* Coletânea de 74 poemas de minha lavra, reunidos em livro publicado em março de 2019, com tiragem medíocre – apenas 5 exemplares (os cinco dedos da mão, em cujo centro veem-se, bem delineadas, linhas que formam o M da minha Musa inspiradora: Marileide, a minha eterna parceira).

Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.

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Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.