Esquerda e direita, Bobbio e a eleição presidencial de 2018, por Eduardo Paulino

Para me referir ao tema que proponho é preciso que eu mencione o fato que me acordou para tal tema. Em uma das aulas do cientista político Josênio Parente, ele disse: ”Que pela primeira vez vimos uma eleição com competidores bem colocados no âmbito da Direita e da Esquerda política no Brasil”. Ele ressaltou o porquê deste fato. O PT e o PSDB são partidos historicamente opositores. Mas por conta da conjuntura o PSDB é, pelo menos até a atual data, um partido de centro-direita, mas com um núcleo que aspira ocupar a vaga de centro-esquerda, disputada com mais sucesso pelo PT. Enquanto Bolsonaro tem tradicionalmente um discurso de extrema Direita. Há uma grande distinção entre PSDB e o atual PSL. Enquanto que o PT sempre foi considerado de Esquerda.

          O que o Dr. Josênio Parente quis nos dizer é que vimos uma forte distinção entre os competidores da eleição presidencial de 2018. Os dois se encaixaram muito bem no que a literatura da Ciência Política havia conceituado como Direita e Esquerda.

          Sobre a literatura da Ciência Política acerca da distinção entre Esquerda e Direita, pude encontrar um livro de Norberto Bobbio que fala de tal tema. O nome do livro é Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política.

          Para Bobbio, “a própria categoria da política é representada, numa bem conhecida teoria, pela díade “amigo-inimigo”, que resume em nível de alta abstração a ideia da política como espaço do antagonismo, cuja a forma extrema é a guerra, que é naturaliter dicotômica.”

          Os discursos eleitorais dos dois candidatos mostram fervorosamente a dicotomia entre os candidatos. Enquanto o PT atacava Bolsonaro com uma assimilação a Ditadura de 64, a defensor de torturas e de pôr mais armas nas mãos dos cidadãos incitando a violência. Bolsonaro atacava ao PT por serem corruptos, comunistas e defensores de bandidagem.

            Tal dicotomia trouxe ao Brasil uma certa divisão, por conta de ideologias diferentes, e transformou-se em uma eleição baseada na negação. Quem nunca votaria em Bolsonaro, certamente, votaria em Haddad para que Bolsonaro não ganhasse. Quem nunca votaria no PT, certamente, votaria em Bolsonaro para que Haddad não ganhasse. A eleição, portanto foi contra o PT.

           Bobbio nos diz que “porque os dois termos descrevem uma antítese, a conotação positiva de um implica necessariamente a conotação negativa do outro. Saber qual dos dois é o axiologicamente positivo e qual o axiologicamente negativo não depende do significado descritivo, mas dos opostos juízos de valor que são dados às coisas descritas.”

          Por fim, isso nos traz a ideia de que os candidatos utilizam de uma tática que aqui gostaria de chamar de “o inimigo nacional”.  Chamo assim por conta de que em campanhas de segundo-turnos, no plural porque me refiro à maioria das eleições; os candidatos geralmente preveem um “apocalipse” no que o outro candidato poderá fazer. E que por conta deste “apocalipse” ele seria um ruim governante para a população e, posteriori, péssimo para a nação.

Eduardo Paulino

Eduardo Paulino é estudante do curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual do Ceará. Foca na área de Ciência Política nos campos de partidos políticos, eleições, marketing político e comportamento político.