É preciso entender que o poder é temporário, por Haroldo Araújo

O que fez muito mal ao Brasil foi o despreparo de nossa classe política que atuava com indisfarçável preocupação com a manutenção do poder. Inimaginável que o despreparo chegasse a tanta alienação por tanto tempo. Não sei se poderia admitir que tantos fossem capazes de vincular o próprio destino à falta de visão estratégica de alguns ocupantes do Palácio. E o Brasil é rico nessas escolhas populares!

Acontece que para chegar ao poder o discurso é popular e foi assim com Jânio da vassoura, Collor o caçador de marajás, Lula e depois Dilma, duas almas num corpo só! Cadê a alternância?. Ninguém merece! Quando Dilma se reelegeu em 2014 não enganou a ninguém no atacado, quando (por exemplo) disse que em eleição vale tudo para vencer. Errou também no varejo das intenções porque não foi capaz de dizer aos eleitores o que iria fazer após o resultado, nem falou da situação de fato que o país enfrentava com seu governo.

Fernando Henrique Cardoso ainda foi mordido pela mosca azul, mas se recuperou e não teve recaída. Um dos seus erros foi aceitar a reeleição. Uma de suas virtudes foi compreender que a democracia é bem mais poderosa com a alternância e se manteve afastado dos cantos de sereia de candidaturas a funções que certamente ofereceriam alguma visibilidade e projeção. FHC saiu de cena na hora certa das mudanças que já se mostravam a caminho.

Não foi o caso de Sarney que saiu da Presidência para o Senado. Collor fez a descontaminação cobrada pelo Impeachment fora do Brasil, mas está aí! Lula já se apresenta novamente como candidato {a candidato} à Presidência da República e comprometeu sua imponderável força política ao afiançar uma gerente para comandar o Brasil. Lula sabia que ele próprio não tinha o mínimo conhecimento técnico, mas tinha o capital político.

Ao contrário dele havia uma auxiliar que tinha conhecimento técnico, mas sem competência nenhuma na política, deu no que deu! Chefes de Estado afiançando e avalizando uma candidatura não é próprio de uma democracia, até porque a iniciativa denotava uma indisfarçável tentativa de continuidade de poder e assim foi-se mais um bem intencionado para o inferno e se sabe quem vai responder por esse erro: “O povo”.

Um Técnico que ainda não foi gestor público poderá adquirir competência política fora da política? Sim, assim como um político que ainda não foi gestor público também poderá adquirir competência técnica desde que ambos tenham valores democráticos. O que se exige de um gestor público para ser bem sucedido é que ele seja dotado de valores pessoais e que seja capaz de se aperfeiçoar com vistas à boa gestão e não à perpetuação no poder.

Então por que Dilma fracassou? Porque assim como disse que iria fazer, ela fez o diabo nas eleições . O Visconde Alexis de Tocqueville nos inspira a fazer uma advertência com sua brilhante frase: “ O momento mais perigoso, para um mau governo, é normalmente aquele em que começa a remodelar-se”. Dilma deu uma guinada em seu segundo mandato! Uma guinada fatal.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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