“…O que é hoje o Brasil, depois dessa longa construção? É uma nação incompleta, é uma sociedade nacional-dependente, é uma nação em busca de uma estratégia nacional de desenvolvimento; é uma nação que rejeita o Estado Liberal mas não logrou ainda reconstruir o Estado desenvolvimentista; é uma economia que cresce lentamente desde 1980, e que precisa aumentar de modo durável sua taxa de investimento (algo que vem acontecendo, mas muito lentamente), mas não logra superar a armadilha dos juros altos e da taxa de câmbio sobreapreciada; é uma sociedade civil viva e atuante, que garante uma democracia consolidada; é uma sociedade em que ainda impera a desigualdade, mas a luta pela justiça social está viva, é uma sociedade que participa da proteção mundial do ambiente; é, finalmente, uma democracia viva, quase participativa.
Uma nação incompleta? Sim, o Brasil construiu sua nação com vigor entre 1930 e 1980 usando como bandeira o nacional-desenvolvimentismo, mas já nos anos 1970 esse desenvolvimentismo começou a perder força porque fora adotado pelo regime militar, enquanto a interpretação da dependência se tornava dominante nos meios intelectuais democráticos e afirmava que a dependência afinal era inevitável — fazia parte da ordem das coisas…”
Trecho do livro A Construção Política do Brasil, de Luiz Carlos Bresser-Pereira (Editora 34, 2014).