Ele não atravessou a rua. Ela sempre acalentou seus medos. Colocou-os no colo, afagou-lhes com amor e respeito. Nunca criticou sua ausência de movimento.
A não travessia de Joaquim sempre fora a dor e a esperança de Catarina, até o dia em que ela percebeu que, sem olhar para trás, ele dobrou a esquina oposta a ela.
Nem ao menos um mísero aceno com a mão para que Catarina entendesse sua partida.
Caminharam juntos até ali, mas por alguma razão Joaquim entendeu que seria melhor deixá-la pelo caminho, à beira da estrada, do outro lado da rua à sua espera.
Barulho somente o do silêncio que ele fez.
Não se importou se dos seus olhos cairia uma chuva torrencial que molharia toda a calçada.
– Todo esse tempo compartilhado contigo, Joaquim, e eu não consegui te ensinar que até para ir embora é possível ser com amor?
– Você ainda me ama? _ perguntou chorosa, dias depois, por correspondência.
Ansiosa pela resposta, sangrou com a única frase que ali estava escrita: “Fica bem, por favor”.
Impossível de acreditar. Catarina tentava entender o que se passava para justificar tamanha frieza. Queria que Joaquim ao menos tivesse olhado para trás no momento da partida, assim ela teria visto se dos seus olhos também choveu.
Até hoje ela permanece lá, do outro lado da rua, ouve o tic-tac do relógio e espera o retorno de Joaquim para corrigir a resposta que lhe deu, mas… ele não chega.
– Então, segue. É assim que queres viver – acreditando ser a forma de evitar o fogo eterno. Viver de disfarces não é uma grande vida, mas é uma questão de escolha. E tu escolheu. Metade de mim entende você, somente metade. A outra nem ouso falar.
É preciso muita coragem para se retirar com amor de determinadas situações. Somente os não covardes conseguem.
Era difícil para Catarina conceber aquela atitude. Ela havia aprendido que pessoas educadas como Joaquim, pedem licença até para se retirar. Havia algo errado. Tudo estava errado.
(Spoiler do livro: Catarina e Joaquim – Um Amor Português)
