Devagar com os cortes que o presidente é de barro: a reação pelo escracho, por João Paulo Bandeira de Souza

Os vídeos que exibem articuladores e entusiastas do forjado, ilegal e ilegítimo processo de Impeachment da presidenta Dilma Rousseff sendo escrachados em aeroportos, ruas, redes e aviões, sem defesa de ninguém, dão mostra do elevado acirramento político em níveis nunca vistos na Nova República. Embora a grande mídia não mostre e as classes médias paneleiras disfarcem, a intolerância  com o governo interino é compatível e em determinados aspectos maior que a do governo afastado. Advogados, jornalistas, deputados, senadores, ministros não escapam de vaias e xingamentos públicos cada vez mais violentos. Poucos querem Dilma, ninguém aceita Temer.

Recentemente Paulinho da Força, Beto Mansur e Janaína Pascoal foram agraciados com o desprezo coletivo. Mansur tentou retrucar mas foi calado pelos gritos de golpista, fascista, corrupto. Paulinho da Força e Janaína acuados pelas câmeras de celulares ouviram calados discursos inflamados que lembravam os processos que o Deputado responde no STF e sobre os R$ 45.000 que a advogada recebeu do PSDB.

Não esqueçamos do inusitado fato do bi-ex-ministro do turismo do Governo interino/Governo Dilma, Henrique Eduardo Alves, precisar ficar escondido no banheiro por horas para não ouvir gritos no saguão do aeroporto. Todos lembram que episódios parecidos aconteceram com nomes ligados aos governos Petistas. O escracho difuso e espontâneo não escolhe e nem respeita partidos, cargos ou instituições, mas a conspiração de Temer e Cunha levou-o a patamares mais elevados.

O próprio presidente interino com medo de panelaços e afins só fala à nação rápido e de surpresa. Até hoje não reuniu condições políticas e sociais para fazer um pronunciamento em rede nacional. Só fala para claque no meio da floresta. Duvido muito que o Mendocinha, temerário ministro da Educação, consiga falar em alguma Universidade Federal do país para estudantes, professores e pesquisadores. Ao contrário do que defendiam seus entusiastas na redes sociais, ruas e jornais, o impeachment de Dilma Rousseff não foi a melhor solução para nossa crise política, ao contrário, tornou-a mais profunda.

A crise econômica vai ser enfrentada com medidas que jamais venceriam as disputas nas urnas, pois atacam direitos e penalizam os mais pobres e vulneráveis da sociedade; retira dinheiro da educação e da saúde, achata salários, obriga as pessoas a trabalhar até os setenta anos, rompe tratados internacionais tecidos à duras penas pelo Estado brasileiro. Diante desse cenário caótico continuaremos recebendo pelas redes sociais enxurradas de vídeos de escrachos públicos, pois, se a saída de Dilma era a luz no final do túnel, me desculpem dizer, mas era a locomotiva golpista que estava vindo em nossa direção!

João Paulo Bandeira de Souza

Cientista político, Doutor em Ciências Sociais (UFRN), Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (MAPPS/UECE), membro dos grupos de pesquisa Marginália-UFRN e Democracia e Globalização-UECE.

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João Paulo Bandeira de Souza

Cientista político, Doutor em Ciências Sociais (UFRN), Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (MAPPS/UECE), membro dos grupos de pesquisa Marginália-UFRN e Democracia e Globalização-UECE.