Nestes anos que “vivi a Universidade”— somados os contumaz de pajelança — tenho para mais 60 anos de pastoreio acadêmico. Conto aí a permanência em sala-de-aulas, na administração e nas longas desobrigas de simpósios congressos e reuniões de conselho e departamentos, sem contar as horas perdidas de submissão inútil ao jogo da burocracia dos órgãos do Estado.
Reuni em prontuários, folhas-corrida e registros de informação, além de um currículo honesto, uma história de vida na qual pus as minhas energias, as ideias, o interesse pela descoberta e um vezo incômodo de pedir pela liberdade, na Universidade e fora dela.
Fui insultado, à esquerda e à direita e pelos agentes do poder, acusado de comunista, fascista, “isentão” e visto com discrição prudente pela Igreja. Escapei do canto-de-sereia dos partidos e dos políticos, tornei-me alheio à sedução e aos encantos da autoridade e do prestígio, se isso pode ser possível no reino da política…
Fui reitor por obra do acaso, saído de uma campanha tumultuada pelo peso das oligarquias locais e pelos órgãos de segurança e informações.
Dei sorte, escapei do pior, mas incomodei gente articulada e poderosa.
Eles, como eu, estamos a envelhecer. Mas não nos importamos.
Uns indiferentes à perda do esteio da sua honra e do caráter, outris alegados a esses bens de raiz. Outros mais, alheios a essas firulas, continuam em um processo bem sucedido de adaptação.
O que fazer ? Ninguém perde assim de vez os velhos hábitos adquiridos.
Não busco cura para essas caturrices da idade — e do caráter…
É próprio dos velhos envelhecerem. Cada um desses macróbios sobreviventes o faz a seu modo. Escolhi o meu. Não me arrependo. Os netos, gente nova, e os de casa parecem gostar do jeitão do pai e do avô.
“Por supuesto…”