DE MIM PARA COMIGO

Nestes anos que “vivi a Universidade”— somados os contumaz de pajelança — tenho para mais 60 anos de pastoreio acadêmico. Conto aí a permanência em sala-de-aulas, na administração e nas longas desobrigas de simpósios congressos e reuniões de conselho e departamentos, sem contar as horas perdidas de submissão inútil ao jogo da burocracia dos órgãos do Estado.

Reuni em prontuários, folhas-corrida e registros de informação, além de um currículo honesto, uma história de vida na qual pus as minhas energias, as ideias, o interesse pela descoberta e um vezo incômodo de pedir pela liberdade, na Universidade e fora dela.

Fui insultado, à esquerda e à direita e pelos agentes do poder, acusado de comunista, fascista, “isentão” e visto com discrição prudente pela Igreja. Escapei do canto-de-sereia dos partidos e dos políticos, tornei-me alheio à sedução e aos encantos da autoridade e do prestígio, se isso pode ser possível no reino da política…

Fui reitor por obra do acaso, saído de uma campanha tumultuada pelo peso das oligarquias locais e pelos órgãos de segurança e informações.

Dei sorte, escapei do pior, mas incomodei gente articulada e poderosa.

Eles, como eu, estamos a envelhecer. Mas não nos importamos.

Uns indiferentes à perda do esteio da sua honra e do caráter, outris alegados a esses bens de raiz. Outros mais, alheios a essas firulas, continuam em um processo bem sucedido de adaptação.

O que fazer ? Ninguém perde assim de vez os velhos hábitos adquiridos.

Não busco cura para essas caturrices da idade — e do caráter…

É próprio dos velhos envelhecerem. Cada um desses macróbios sobreviventes o faz a seu modo. Escolhi o meu. Não me arrependo. Os netos, gente nova, e os de casa parecem gostar do jeitão do pai e do avô.

“Por supuesto…”

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.