Eis o que é um jornalista em seu dia de folga: procurando assuntos interessantes para se alimentar e poder dizer de si para si “este assunto daria uma ótima pauta, uma ótima entrevista com fulano e sicrano”.
Nada melhor do que curtir a ideia de que, passados os primeiros dez anos de correria, de pautas água-com-açúcar, de buracos de rua e de coletivas – “Senhor, senhor, uma pergunta!” – o mundo está em seu colo. A criação das próprias produções, das próprias entrevistas, do próprio modelo de fazer as coisas no jornalismo, de forma mais pontual, ou na comunicação, de forma mais ampla, nunca conheceu as possibilidades que se desenham hoje, e estou falando de realidades e fatos mensuráveis, de público segmentado, de mercado mesmo, aquele onde até corre-se o risco de se faturar algum dinheiro. Nasceu até um setor para este tipo de investimento, a simpática Economia Criativa.
A ideia é bem simples, ou seja, usar seu capital (humano, intelectual, artístico etc.) e dividir com outras pessoas que estão – e elas estão! – interessadas em aprender aquilo que você sabe, conhecer aquilo que você conhece, fazer aquilo que você faz. Ah, e elas pagam por isso, sabia? Apesar de não envolver apenas dinheiro. Mas, isso é outra história.
Iniciei falando de jornalistas, mas também poderia escolher músicos, terapeutas, professores, artesãos ou atores. O artigo não é sobre empreendedorismo, mas podia ser. Aliás, se você quiser, já é sobre empreender nestes tempos de economia fragmentada, por isso incerta, mas não para nossos atos humanos e criativos.
A bem da verdade, escrevo sobre vidas, porém, a milhas de distância de qualquer coisa que lembre esoterismo, autoajuda ou onipresentes métodos coach.
Propositadamente, não paramos para pensar que vida e mercado estão umbilicalmente ligados. E se diariamente ajudamos a formar a sociedade mais consumista de todas as gerações é porque esquecemos de algo: podemos dar muito mais do que nosso dinheiro para que a roda continue a girar.
Atenção! Dar mais que o nosso dinheiro é dá-lo, mas não apenas ele. Nossa contribuição deve também ser, por exemplo cultural, fraternal, política, educacional, familiar e social. Podemos muito mais do que o hedonismo nos faz crer. Até uma simples e verdadeira provocação pode tirar alguém dos trilhos do comodismo e da nefasta zona de conforto e salvá-lo. Experimente. Ninguém é tão pobre que não possa dar de si; ademais, nem tão avaro que não se permita dividir o seu eu.
Saiba o que você possui e use seus talentos da forma como nos lembra Monsieur Chevrot na busca por ampliar nossas atividades e melhorar nossas ações: “devemos nos servir delas (as riquezas que nos são necessárias) e nos apropriar delas na medida em que forem úteis à nossa vida, na medida em que servirem para nosso aperfeiçoamento, nos permitindo cumprir nossa função social e vocação divina”.
En avant!