CONVERSAS DE MEIO DE RUA

[Ou “vapores de humor que amenizam o desatino do mundo” (*)]

 

DO ANTIGO RELÓGIO DA TORRE CENTRAL da igreja matriz, seis badaladas soaram compassadamente e ecoaram por todo o vasto entorno – de muitas ruas que se entrecruzam, um casario horizontal, eminentemente residencial, em bairro bem povoado da ensolarada metrópole – daquele secular templo religioso. Seis da manhã de um dia que mal acordara, despertara preguiçosamente, sob fina neblina cujos frágeis pingos, caídos de uma efêmera e arredia nuvenzinha, mal chegavam ao leito das vias públicas, àquela hora ainda desprovidas de vida pulsante, e aos enegrecidos e disformes telhados – que, inertes, silentes e cúmplices, resguardam mistérios e segredos, amores e ódios, sonhos e pesadelos, sossegos e temores, atinos e desatinos, verdades e mentiras, e silêncios e confissões e traições e tédios e infortúnios, vida enfim! – e às desniveladas calçadas das casas, revelando uma enjoada e aborrecida segunda-feira de ressaca coletiva, parecendo que o mundo, todo ele, aproveitara a generosidade dominical para, em pleno isolamento, em necessário confinamento, em forçoso e essencial distanciamento social, usufruir de uma farra histórica, de um pileque homérico, que sempre graves e cruciais transtornos ao humano corpo e à translúcida alma – mais a ele que a ela – causam.

Com grande porção do rosto ligeiramente ovalado encoberta pela máscara caseira de cor verde que, presa pelos elásticos em ambas as orelhas, ajustada nas bochechas e indo da base dos óculos de correção até a parte inferior do queixo, suavemente protruso, protege o nariz e a boca da ação do microscópico invasor de células com alto grau de letalidade, ele, de boné básico preto a esconder a já acentuada calvície, bermuda preta com largos bolsos laterais, camiseta vinho e sandálias de couro atanado de cor café, de pé na calçada, às costas o portão de alumínio já devidamente fechado, esfregou quase mecanicamente as mãos em álcool em gel a 70 graus – nem menos, nem mais, porque, assim fora, não se alcançaria o efeito desejado, seja por baixa eficácia, seja por alta volatilidade –, enquanto verificava, com olhares perscrutantes à direita e à esquerda, se se mostrava seguro o trajeto que ora se dispunha a percorrer a pé, o que faz cotidianamente.

Uma lufada de ar friíssimo, daquelas que em nós provocam arrepios, soprou no sentido praia-sertão. E a nuvenzinha passageira desapareceu. Com ela, a anêmica neblina. Restou, ainda, um céu acinzentado, melancólico, sombrio.

Nesse instante, emergiu da esquina à direita alguém que, apesar dos perceptíveis efeitos da máscara e do tempo – há meses não se encontram, desde a suspensão dos ordinários ofícios da confraria em mesa de específico bar –, nada o impediu de logo reconhecê-lo; ademais, assim que o homem dele se aproximou, os cumprimentos seguiram o rito dos velhos tempos:

– Seu Chiquinho, bom dia para você, extensivo aos seus! Prezo que todos estejam saudáveis e felizes!

– Bom dia, seu Toinho! Os meus desejos são recíprocos em relação a você e familiares. Folgo em revê-lo.

– O amigo, por acaso, vai aos pães?

– Sim. Talqualmente você, né!

– Ali, na padaria da esquina…?

– Não. Antes era ali. Agora não mais. Estou indo à da avenida.

– Posso saber o porquê, preclaro amigo?

– Basicamente, por três razões que se mostram, a mim obviamente, bastante suficientes. Uma delas, a maior distância de casa, a me favorecer uma caminhada matinal, embora não tão extensa quanto à que seria recomendável. É bem melhor do que nada. Uma outra, o fato de só lá eu encontrar a tapioquinha de coco preferida da mulher, iguaria indispensável no café da manhã dela; e você sabe muito bem como se torna bom o dia em que a mulher da gente sorri logo no café da manhã, não é verdade? (O outro respondeu afirmativamente apenas com um meneio de cabeça, lembrando-se de já haver dito isso em alguns dos então tradicionais encontros dominicais largados à margem do tempo). Por fim, amigo Toinho, por medida de segurança…

– Como assim, parceiro?!

– Na padaria da esquina, você há de convir, o espaço reservado aos fregueses é muito reduzido, e isso, potencializado pela ausência de marcadores de distanciamento, concorre para frequentes aglomerações, sem falar na falta da exigência do uso de máscara. Um único e estreito portão de entrada e saída. Um alçapão, sem trocadilho. Um perigo, amigo.

– É isso mesmo. Eu já observei isso algumas vezes. Lembro-me de um caso interessante. Vamos andando…

– Ah, sim! Vamos.

– Pois bem. Como eu ia dizendo. Numa manhã dessas, não faz muito tempo, um idoso, certamente com mais de setenta, furou a fila da freguesia sob a justificativa de que tinha direito a atendimento prioritário. O pior é que, a rigor, todos nós, ali esperando a vez de sermos atendidos, também tínhamos. Mas, tudo bem. Só que ele não usava máscara. A cara limpa reluzia a óleo de peroba. Advertido por alguém da fila, ele respondeu ao melhor estilo do reducionismo bolsonarista: Não se preocupem, a gente só morre uma vez! Aí eu não me contive, amigo. Reagi. E antes de morrer, o senhor pretende matar quantos? Todos riram. Por trás das respectivas máscaras, é claro. E o velhinho pé-na-cova me encarou como se eu fosse o pior dos seus inimigos. Acho até que me praguejou dizendo ser eu um infame lulista ou petista ou dilmista ou corrupto ou… coisas do gênero, que sei que não sou.

– E por falar em reducionismo… e isso me faz voltar aos idos tempos da gripezinha… que se tem revelado deveras devastadora…

– … já são mais de duzentos mil mortos… com direito à segunda onda, à falta de oxigênio, além do uso de caminhões refrigeradores para acondicionar e preservar cadáveres insepultos. Um absurdo!

– Concordo. Mas a vacina já está na praça, bem próxima de nós. Em quantidade insuficiente para o real propósito de promover a “imunidade de rebanho”, embora já acenda uma luzinha de esperança nesta crucial e trágica curvatura da vida.

– Seu Chiquinho, meu amigo. O que ultimamente tenho lido e ouvido a respeito da vacina dá penumbras nos olhos, comichões nas narinas e nó na garganta. Será que há quem acolha, de bom grado, a notícia de uma rede de farmácias paulistana ofertando aos seus incautos clientes doses de vacina – falsa, obviamente – a preços módicos, segundo a publicidade, e sob entrega em prazo certo a partir da compra?

– E tem gente comprando?!

– Sim. Como dizia o filósofo Ciro Gomes, o paulista mais sobralense de todos, “Só existe o malandro porque existe o otário”. Há ainda os que se negam a vacinar-se…

– … com medo de virar jacaré…

– … não só por isso, mas também porque sustentam ser o mesmo que jogar uma moeda pro alto certo de que, ao cair, ou dará cara ou coroa. Por conta dos cinquenta e poucos por cento de eficácia da Coronavac.

– Bem, aí é ignorância pura. Pelo que se sabe, metade dos vacinados estarão, em algum tempo, devidamente imunizados. Ocorre que somente vinte e poucos por cento correrão o risco de contrair a doença de forma suave, quase assintomáticos, enquanto a totalidade estará livre da forma mais severa do mal e, o que é bem mais importante, longe do risco de perder a vida. E isso não é mera loteria. Muito menos achismo. É ciência pura.

Chegaram à padaria. Movimento quase nenhum. Apenas três das cinco mesinhas ao correr da parede que dá para a avenida estavam ocupadas – um jovem casal, uma estudante adolescente e um cinquentão mal-ajambrado, metido a líder comunitário, derrotado repetidas vezes em recorrentes tentativas de ganhar assento no legislativo municipal, tomavam o café matinal. Os dois amigos se aproximaram do balcão, cujas vitrines expunham uma diversidade de produtos da panificação à disposição da freguesia, e fizeram os seus pedidos – pães carioquinhas, pães de leite, tapiocas de coco. A mocinha de máscara e touca os atendeu prontamente com um cativante sorriso nos olhos de negror ímpar. Quando iam dirigir-se ao caixa, Chiquinho levou a mão direita em concha à boca e sussurrou para o Toinho:

– Agora você vai ver um real exemplo do novo normal, alguém de comportamento elogiável que se metamorfoseou em um Lunga modernoso.

– Quem?

– Ele. – À resposta concisa e quase inaudível, seguiu-se um quase imperceptível meneio de cabeça em direção ao balcão lateral, onde funcionava o caixa, sob os severos cuidados de um senhor grisalho, de semblante extremamente carregado, a quem Chiquinho cumprimentou com razoável contentamento:

– Bom dia, seu Hélio! Tudo bem com o senhor?

– Tudo bem só se for pra vocês… pra mim, a vida continua a mesma merda… – E, se sisudo estava, sisudo permaneceu.

– Mas homem, nem a vacina anima o senhor…

– Que vacina?!

– A do novo coronavírus, seu Hélio.

– Já chegou tarde… bastante tarde. Sabe de uma coisa: eu preferia o impeachment

– De quem? Do Trump?

– Bem que o bode louro, o pai-de-chiqueiro oxigenado merecia um chute no big traseiro, pra deixar de querer ser muita merda… o que, na verdade, é. Mas, pra mim, mais importante que a vacina seria a degola do capitão das marés

Capitão das marés?! – Estranhou Toinho. – Não entendi.

– O que vai e volta ao sabor das ondas. O que diz uma coisa num dia e outra, ao contrário, no seguinte. A desgraça que abriu as portas do inferno pra mim. Eu, o otário. Que nele votei, cheio de esperança. Que acabei perdendo os meus velhos para a Covid. Que, por acreditar em quem não devia, optei por tratá-los com cloroquina. Que, quando a situação piorou, saiu do controle, tive de interná-los… e lá eles foram entubados, levados a leitos da UTI, de onde saíram direto para o cemitério. Sem direito a velório, a missa de corpo presente. E eu nem pude vê-los. Essa culpa vou carregar no lombo pelo resto dos meus dias. E o ódio também. Essa dívida ele ainda me paga, nem que seja no inferno. – Pôs no tampo de madeira do balcão, em dois arranjos distintos, o troco de cada um deles. E os despediu. – Por favor, passem bem!

Duas lágrimas furtivas escaparam pelo canto dos olhos e escorreram face abaixo. E ele as recolheu em lenço branco, com a mão trêmula. Ainda foi possível perceber o endurecimento do semblante, a sisudez recuperada.

Já na calçada, à espera de que o sinal fechasse para os carros e abrisse para eles, Toinho mostrou-se transtornado. Não admitia a profunda mudança que acometera o seu Hélio, ele que sempre fora tão tranquilo, tão calmo, tão cordial.

– Pra você ver como são as coisas. – Ponderou Chiquinho. – Meu pai costumava dizer que o homem é produto do meio. E eu me permito complementar: a vida molda cada um de nós, ao seu talante, à sua maneira. Se antes agíamos de um determinado jeito, nada assegura que jamais reagiremos de outro. Tudo depende do que ela nos impõe, do que de nós exige, em que circunstâncias e intensidade. Quanto ao impeachment, não sou favorável. Por dois motivos: para não banalizar um instrumento tão significativo na inevitável correção de rumos e tão definitivo na abrupta cessação de uma delegação de poderes que emana do povo e por entender que cada povo tem o líder que merece e, se escolheu errado, deve pagar o justo preço por isso. Apesar de reconhecer que, por muito menos, o Collor e a Dilma pagaram muito caro.

Atravessaram a avenida e, na calçada oposta, reiniciaram a caminhada de retorno às suas moradias. É o Toinho quem retoma a conversa:

– Amigo, você deve se lembrar de que havia lá na nossa saudosa terrinha – ambos eram baturiteenses: um do Putiú, o Chiquinho; o outro do Mondego, o Toinho; ou seja, nasceram e cresceram em polos diametralmente opostos, sob o ponto de vista geográfico, embora à mesma época –, acho que na esquina da João Cordeiro com a Hildo Furtado, o Posto Estadual de Puericultura…

– … também conhecido como Lactário…

– … isso mesmo. Vinculado à Secretaria de Saúde e dirigido pelo médico pediatra doutor Assis, cuidava das gestantes, das parturientes ou puérperas, dos lactantes e das crianças na primeira infância, oferecendo acompanhamento médico e alimentar. Ali, conterrâneo, eu tomei a primeira vacina, contra o sarampo, eu que já havia enfrentado a coqueluche que causara graves estragos na garganta, época em que mais me empanturraram de gemada, uma mistura de gema de ovo cru, leite de vaca fervido e ainda quente e o pastoso sumo esverdeado de folhas de mastruz amassadas no pilão. O cabra suava por todos os poros e até pelos caroços dos olhos.

– Naquela época, eu sofri com a caxumba. A papada se concentrou em um lado só, preencheu toda a lateral do pescoço, uma vermelhidão de amedrontar. Tive febres altas, cheguei a tresvariar. Submeteram-me a repouso absoluto, ante o risco de aquele troço descer aos testículos e me tornar estéril. E não havia vacina, nem tratamento precoce.

– Lá no Lactário, o enfermeiro se chamava, se a memória não me engana, Luiz Serafim, que morava nas Lajes. Um senhor magro, alto, de uma paciência de Jó. Pra vacinar, ele usava um instrumento com bico de metal – que mais parecia o de caneta-tinteiro – afixado em haste de madeira torneada e envernizada, de uns quinze centímetros de tamanho. Ele aquecia o bico na chama de base azulada e língua amarelada saída de um pequeno candeeiro de vidro, com dispositivo em metal da cor de bronze a ser manuseado a partir de uma pequena manivela que, se girada para a frente, fazia levantar o meio da tampa, por onde saía a ponta do pavio embebido em álcool, então aceso pela ação de um isqueiro, e, se girada para trás, recolhia a ponta do pavio, apagando a chama pelo fechamento mecânico da tampa. Pois bem. Com o bico de metal aquecido, o seu Luiz fazia dois cortes rasos, de um centímetro cada, na parte alta e frontal do braço, sobre os quais espalhava com cuidado e zelo uma porçãozinha de unguento retirado, com uma palheta niquelada, de um vidro mantido em geladeira a gás. Ali logo iria brotar uma bolha escura que deveria ser conservada até murchar e a pele ressecada cair. E como aquilo coçava, meu Deus! Pronto, adeus sarampo! Até hoje ainda carrego a cicatriz…

– Seu Toinho, seu Toinho! Há quem negue a validade da Coronavac por sua origem chinesa, exatamente no berço do novo coronavírus. E isso é interessante e intrigante ao mesmo tempo. Quem de nós ainda não foi vacinado neste mundo de meu Deus?! Arrisco-me a afirmar que todos já participamos de algum tipo de campanha de vacinação em massa. No mínimo, isso. Pois bem. Sabe quem produz insumos para não menos de noventa por cento das vacinas que circulam no mundo? A China. E, pelo que sei, ninguém ainda virou jacaré.

Ao dobrar a última esquina, os dois amigos depararam com cena incomum na atualidade das grandes cidades. Um casal de cães rasga-saco, ainda ofegantes, olhares desconfiados, mas com a tranquilidade de quem nada fez de errado – ela, no cio, voltada pro norte; ele, vadio, voltado pro sul –, ainda unidos pelo que restava de um ato consentido de natural procriação, não apenas chamou-lhes a atenção, mas os fez lembrar os idos tempos que já não voltam mais.

– Quantas vezes, ainda moleques, provocamos com pedradas o destravamento forçado desse tipo de encaixe, certamente dolorido para ambos…

– … num tempo em que matávamos lagartixas com tiros de baladeiras, pelo simples prazer de acertar o alvo e testar a pontaria…

– … em que caçávamos, com essas mesmas baladeiras, rolinhas e outras aves menores e pescávamos, com isca de minhoca ou de carne de caçote, corrós ou carazinhos duros de morrer, logo presos pela guelra e boca em enfieiras de arame…

– … em que gazeávamos aula chupando cana quebrada no joelho e descascada no dente no meio do canavial dos padres salesianos…

– … em que roubávamos frutas, as goiabas em especial, dos quintais alheios, preferencialmente os guarnecidos por valentes cães…

– … em que chupávamos mangas deitados no leito arenoso dos rios, as águas tranquilas escorrendo suavemente sobre nossos franzinos corpos…

– … em que jogávamos bola em qualquer tipo de campo, incluindo até ruas de calçamento e meio-fio…

– … em que tomávamos banhos de rio, dando saltos mortais e cangapés nas águas barrentas das enchentes, pouco preocupados com os riscos de até perder a vida…

– … em que nos banhávamos, em dia de chuva, nas águas frias que escorriam das biqueiras das casas, das bicas ou bocas-de-jacaré dos prédios e dos templos…

– … em que mexíamos com os pedintes – em especial, o cego Mariano, o Diabo da bolsa e o Raimundo dos cachimbos – com o propósito de atormentá-los…

– … em que brechávamos as lavadeiras dos rios, com intenções que já não mais podemos sequer declarar…

– … em que subíamos nas torres das igrejas para afugentar morcegos e exterminar ninhos de andorinhas e de corujas…

– … em que morcegávamos caminhões de feira, aos sábados, na subida da Dom Bosco, a partir da igreja das irmãs salesianas até o hospital do doutor Marcelo…

– … em que brincávamos de furachão, em tempos de chuva; de rasteira, na safra dos cajus; e de bila ou bola de gude, em qualquer época…

– … em que empinávamos arraias coloridas em campo aberto nas ventanias dos meios de ano…

– … em que disputávamos partidas de gol-a-gol com bola de meia e traves de pedras ou tijolos, no piso caraquento dos patamares das igrejas – e Baturité tinha tantas! – onde, aqui e acolá, quando o chute saía muito rente ao chão, perdíamos a unha do dedão…

– … em que paquerávamos as menininhas mais afoitas nas voltas e mais voltas nas pracinhas, no início das noites iluminadas pela luz frouxa de luminárias em postes de jardim, sem muita coragem de dar uma cantada, ante o risco de não ser correspondido…

– … em que dançávamos nas tertúlias nas casas de quem possuía radiola e discos da Jovem Guarda…

– … em que perdíamos um bom tempo na frente dos espelhos, dando, à base de vaselina Glostora, um trato especial na vasta cabeleira à Elvis Presley…

– … em que fumávamos e bebíamos às escondidas de nossos pais que certamente disso desconfiavam pelos efeitos exteriores que tais vícios causavam…

– … em que pecávamos – e muito! – mas contritos nos ajoelhávamos em confessionários para contar ao padre, que nos conhecia tão bem e, por isso, nem tudo revelávamos – é claro! –, para dele receber a justa penitência e merecer o vivificante perdão…

Após esse interessante jogo de lembranças, que poderia render bem mais ainda, os amigos se despediram, cada um então seguindo o rumo de suas casas, convictos de que outros encontros do tipo certamente iriam acontecer.

Com a conversa de meio de rua encerrada – ou suspensa, como aparenta –, concluo, satisfeito, esta longa caminhada que a Crítica Literária bem pode rotular de crônica.

Ufa!

 

“Não existe veneno mais letal para a criação que o pudor e a vergonha.” (**)

 

(*) Tomás Eloy Martínez, jornalista e escritor argentino, em A sinfonia do Mal, introdução aos 64 contos, de Rubem Fonseca (Companhia das Letras – São Paulo: 2004; pág. 11).

(**) Idem, ibidem; pág. 13.

Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.

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Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.