Vinte de junho, dia de Corpus Christi. Acordei cedo e me levantei devagarinho para não despertar minha esposa, que continuava dormindo como uma criança. Fui à cozinha, tomei um copo d’água e chupei duas laranjas. Caminhei em direção ao studio. A brisa soprava forte pelo janela de vidro que estava aberta. Respirei fundo e imaginei estar despido tomando banho no riacho Araibu, curtindo a natureza. Fiz muito isso na década de 40 quando era menino!
Virei a cabeça para direita e comecei a contemplar minha biblioteca. Meus olhos deslizavam prateleira acima, prateleira abaixo, garimpando um amigo para conversar a manhã inteira: Exupèry, Stephen Covey, Maria Lima de Oliveira (minha mãe) Eckhart Tolly, Osvaldo Araújo, Deepak Choppra, Jessé de Sousa, dentre outros.
Sentado, tomando distância para ver melhor, avistei AS EMOÇÕES DAS PESSOAS NORMAIS de William Marston. Com o livro nas mãos, fui até à janela, contemplei o céu límpido-azul e, introspectivamente, fiz a mim duas perguntas:
–O que é uma pessoa normal?
— Será que sou uma pessoa normal?
Peço que não me perguntem qual a resposta que dei para a segunda pergunta!
Meio dia em ponto, a fome bateu. Marquei o livro na página 101 – Princípios Integrativos das Emoções Primárias – e sai para almoçar num self-service da Barão de Studart, onde tomo o melhor café.
Lá existem vários aquários, e eu me sentei próximo a um com onze peixes – dois grandes, da mesma linhagem e da mesma cor; nove pequenos e médios de linhagens diferentes e cores variadas. Os peixes grandes eram lentos, sem brilho e pareciam sonolentos e tristes. Os peixes menores eram muito ativos, bonitos e alegres. Pareciam bailar o tempo todo. Vi neles a natureza viva e despoluída!
Eu estava tão absorto admirando os peixes, que parei de comer e o garfo caiu.
Mais tarde senti o peso de uma mão no ombro esquerdo. Era uma senhora com o olhar acolhedor, mas aflito!
– “O senhor está sentindo alguma coisa?” – Perguntou com a voz cálida!
– “Não”, respondi firme. “Por que?”
– “Há muito tempo o senhor está parado sem nem piscar. Eu estava preocupada” – falou maternalmente!
– Eu me levantei, abracei-a como um filho e disse com gratidão: “fique tranquila, estou conversando com os peixes!”
– Ela me deu um beijo e saiu de mansinho.