Confundem idolatria ou competência com liderança, por Haroldo Araújo

Ruy Barbosa ficou conhecido como o Águia de Haia ao participar de encontro internacional com destacado brilhantismo e representando o Brasil. Era conhecedor profundo de nosso idioma: Tornou-se uma referência como filólogo. Sua frase que também o distinguiu: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça e de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Certamente o nosso respeitadíssimo Ruy Barbosa (1849-1923) não deixou de receber o reconhecimento público, tão somente pela sua envergadura moral e extrema capacidade intelectual, mas pela participação na vida pública, razão pela qual tornou-se uma referência e exemplo de homem público. Ruy Barbosa foi escolhido para ser o patrono do Senado da República. Uma estátua foi afixada no salão do plenário para homenageá-lo. Foi Ministro da Fazenda e em sua gestão enfrentou crise que ficou conhecida como a Crise do Encilhamento e isso ocorreu no fim da “Monarquia” e início da “República”.

Enquanto o Brasil era uma colônia portuguesa, não havia permissão para a instalação de indústrias. Fato é que a proibição nos obrigava a comprar ao colonizador os produtos que fabricava. Ao fim da monarquia e início da república do Marechal Deodoro, o Visconde de Ouro Preto e Ruy Barbosa comandaram a Fazenda com grandes dificuldades. Poderíamos então fabricar alimentos, tecidos, velas e sabão. Fato que originou o surgimento das sociedades anônimas apoiadas por Ruy. Imagine então que já se enfrentava o desafio de criar ou não algumas políticas específicas e de estímulo à produção para turbinar a escolha de rumos na economia.

Para conseguir alavancar o setor produtivo era muito difícil e assim superar a crise que se denominou de crise do encilhamento. Não haviam cédulas representativas de nossa moeda e havia dificuldade até mesmo para pagar os salários dos funcionários. Essa falta de moeda-papel para a realização das trocas e obtenção de empréstimos para investimento parou o Brasil. Escolhas políticas que seriam oferecidas às empresas, mediante aumento e favorecimento à produção, infelizmente não foram bem-sucedidas. Ruy Barbosa incentivou o acesso ao crédito e incentivou os bancos privados a criarem dinheiro.

Criou taxas alfandegárias para dificultar importações e estimular a economia interna. Um erro histórico! Estaria tudo preparado e com medidas em vigência de modo que não faltariam os recursos cobrados. Aconteceu o inesperado por Ruy: É que a crise do encilhamento era também a “Financeira” em curso! Citamos Ruy Barbosa porque é realmente uma referência, competência impar na vida pública e como ministro da fazenda tentou usar os poderes do “Estado” para turbinar a economia, mas era humano e capaz de cometer alguns equívocos (inclusive esse).

Nem mesmo um Ruy era infalível. Rememoro aqui uma frase de Bertold Brecht: “ Infeliz a nação que precisa de heróis!”. Lamentavelmente, 1 (hum) ano antes do pleito de 2018 e já começam a aparecer os salvadores da pátria. Concluo apontando o erro em apostar em nomes que possam ser capazes de resolver impasses econômicos, mas sugiro que apostem em “Projetos e ideias com rumos bem definidos”, se possível surgidos antes das eleições. Nosso risco é que o povo parece não ter aprendido e continua agarrado a ídolos! Ruy era competente e isso não bastava mais de 100 anos de Ruy e não aprendemos. Não basta a competência! Tem que ter Planos, ideias e rumos bem definidos. Na Gestão Pública, precisa ter Liderança além de competência!

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

Mais do autor

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.