Como resolvi envenenar um monge

“… No início de 1978, uma amiga que trabalhava em uma pequena editora disse-me que estava pedindo a não romancistas (filósofos, sociólogos, políticos, entre outros) que cada um escrevesse um conto policial…Respondi que a escrita criativa não me interessava e que tinha certeza de que era totalmente incapaz de escrever um bom diálogo. Concluí (nem sei por quê) afirmando provocativamente que, se tivesse de escrever um policial, este teria pelo menos quinhentas páginas e se passaria num mosteiro medieval. Minha amiga respondeu que não estava em busca de um desenxabido caça-níqueis literário, e nosso encontro terminou ali.

7. Assim que cheguei em casa, vasculhei as gavetas da minha escrivaninha e recuperei um manuscrito do ano anterior – uma página na qual eu havia escrito alguns nomes de monges. Isso significava que, embora não me tivesse dado conta, na região mais recôndita da minha alma a ideia de um romance já vinha crescendo. Nesse momento, percebi que seria interessante envenenar um monge que lia um livro misterioso, e isso foi tudo. Comecei a escrever O Nome da Rosa.

(Trecho do livro “Confissões de um jovem romancista”, de Umberto Eco, 2013, Cosac Naify)

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