Dizem que era um medo tornado coletivo, para minha geração, o tema musical do programa Fantástico, da Rede Globo, afinal, ouvindo-o a recordação era como um soco no estômago: amanhã é segunda-feira, dia de batente.
Não sei exatamente se isso tem algum fundo de verdade, mas garanto que os programas dominicais de hoje transmitem uma sensação milhares de vezes pior do que a descrita acima. Não sei também como e quando começou a escalada de mau gosto no jornalismo da TV aberta em pleno domingo, um dia sagrado por excelência para dedicar-se a Deus e à família. Se a semana tinha tudo para começar bem, por certo este sentimento vai pelo ralo da insensibilidade dos médias do Século XXI, amantes do grotesco e do sangue escorrendo por entre os pixels das smarts de Full HD.
É possível, os homens e mulheres que atualmente comandam as TV’s abertas apostam na desgraça e tão somente nela para encerrar suas revistas eletrônicas dominicais e telejornais semanais. E, o que era para ser um dia de festa pela semana que passou e pela nova que já chegou, o jornalismo vai guiando o telespectador comum por um corredor apocalíptico das pragas modernas e seus nomes complicados à guerra contra o terrorismo e suas artimanhas malignas para botar o mundo em alerta. Que o digam os franceses.
Como terminar o domingo vendo TV sem achar que tudo está perdido e que, trabalhar na segunda-feira é uma tremenda perda de tempo, afinal, se as balas perdidas não te pegarem, ou o desemprego da atual recessão, ou ainda os políticos de Brasília, por certo uma doença nova e mais resistente ao mais forte antibiótico com certeza não vai errar o alvo que eu e você carregamos no peito.
É assim que o jornalismo feito por emissoras concessionárias dá boa noite ao seu público. A arte do efêmero se tornou a arte do constrangimento desmoralizante e cruel. A imprensa se esqueceu que é um poder (formação cidadã), ou lembra disso apenas pelos motivos errados (poder comercial financeiro).
É óbvio, pelo bem do bom jornalismo, que as matizes da sociedade devem estar representadas nas mídias, mas, só há desgraças acontecendo? Não há nada melhor para elevar a já rastejante autoestima do brasileiro do que o sangue de outros brasileiros? E aquela boa técnica de terminar o noticiário com belas imagens de uma pauta de cultura, ou com ações solidárias comoventes ou ainda exemplos de superação, fizeram o quê com ela? Passaram cola nas páginas dos manuais que dizem que o jornalismo também tem a nobre missão de educar o povo, incentivando-o a mudanças? Não é para isso que temos uma imprensa livre?
A resposta para esta questão é uma só: imprensa livre não passa de mais um jargão da nefasta visão do politicamente correto entranhada em nossa sociedade, que lança trevas nas já escuras noites de domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado do povo brasileiro que parece ter apenas como fonte de escolha o apocalipse ou grotesco. Faça então um favor, ao invés de zapear com o controle, vá navegar com o mouse.