No curso do meu proveitoso – para mim, isto é o que posso asseverar – relacionamento com o Segunda Opinião que, graças à generosidade do seu editor, o mestre Osvaldo Araújo, tão bem me acolheu, me deu guarida na condição de escrevinhador temporão, houve um período em que, a cada texto ali publicado, eu postava na página que mantenho no Facebook um outro por mim tido como “de encaminhamento”, por meio do qual pretendia estimular os meus seguidores na rede social à regular visita ao frutuoso – no que se propõe – sítio do citado jornal eletrônico.
Agora, no momento em que me preparo espiritualmente para o fechamento de mais um ciclo na minha profícua existência terreal, prestes a dobrar o cabo das boas esperanças (que advirão e se consubstanciarão, com certeza!), entendi válida e oportuna a reunião de alguns deles para que, como se retalhos fossem, compusessem uma colcha invulgar e colorida a engalanar, a meu modo, o ambiente em que, crédulo nos bons efeitos que causariam em quem se dispusesse a lê-los e confiante na verdade de que se reveste esse entendimento, depositei os que a eles estes se referem, além de quase duas centenas de outros mais… todos frutos da mesma quase septuagenária e frondosa amoreira.
Insignes leitoras e leitores, eis o que ora lhes ofereço. Deleitem-se.
RETALHO Nº 1 (1º de junho de 2017)
Amigas e amigos,
Desde que, há cerca de duas décadas, dobrei o meu particular “Cabo das Tormentas”, tenho-me empenhado em conduzir, com zelo, serenidade e seriedade, a minha nau – a Arca do Xykolu nada bíblica – ao porto seguro de seu destino inevitável.
A cada parada para reabastecimento e recomposição das energias, mais me assenhoreio da razão de minha existência terreal, mais me esforço em mantê-la em sua plenitude evanescente e mais me conscientizo de que um dia, ninguém sabe precisar quando, por se tratar de um segredo divinal, algo diferente me atingirá e, solitário e vulnerável, assistirei à explosão da minha glândula pineal, cuja principal função, segundo os entendidos do assunto, é estabelecer e manter a simbiótica união entre o corpo e o espírito. Aí, então, o espírito adejará pela eternidade e o corpo se desfará em cinzas (ou pó, como queiram…).
Chego hoje aos 65 anos. Bem vividos, por sinal. Com marcas indeléveis – no corpo e na alma – que concorreram e concorrem para a formação de um perfil demasiadamente humano e exclusivamente meu, sem comparações de qualquer ordem, mas sem egocentrismo, sem aberrações comportamentais de qualquer naipe, ungido da simplicidade própria de família com raízes fincadas no tórrido e pródigo torrão sertanejo, onde enterraram o meu cordão umbilical. E, assim, adiante vou.
Aos que pretenderem me agraciar com presentes, recomendo não gastar seu precioso tempo em casas de vendas de qualquer natureza nem despender qualquer tipo de moeda em época tão cruciante. Para mim, bem mais importante e significativo que isso é visitar-me num aprazível ambiente de leitura; sugiro o jornal eletrônico Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br), em sua edição de hoje. Tal atitude causará em mim a sensação de que ainda consigo oferecer aos amigos e amigas o vinho da melhor safra e, portanto, de boa qualidade.
Com um gesto simples seu – um clique apenas no endereço eletrônico do jornal –, o Segunda Opinião abrirá suas janelas e portas para uma leitura muito agradável.
Leiam-me, pois. Esta será a melhor contribuição que cada um de vocês poderá dar para a construção de mais um dia especial na sexagenária vida de um verdadeiro amigo.
Leiam, portanto, o Seis ponto cinco e, se isto lhe aprouver, manifeste suas opiniões e críticas.
Ser-lhes-ei, muito grato por isto e pelas felicitações que certamente me enviarão.
Um abraço fraterno a todos.
“A vida é a arte do saber / Quem quiser saber tem que viver.” (Ritchie).
RETALHO Nº 2 (12 de agosto de 2017)
Amigas e amigos,
“Estou de volta pro meu aconchego…” (Elba Ramalho)
Submeto-me, hoje, a um retorno aos idos tempos de minha mocidade: os primeiros anos da década de setenta.
Compus, com jovens de reconhecida qualificação, um grupo de estudos preparatórios ao concurso de Auxiliar de Escrita do Banco do Brasil. Em nós, todos apostavam. Saí do ambiente das provas com a consciência tranquila de haver atingido o desempenho desejado. Quando o banco divulgou o resultado, verificaram-se uma certeza e duas surpresas. À aprovação de quem sempre demonstrou capacidade para tanto, juntaram-se a de quem concorreu sem maiores perspectivas e a minha reprovação. O BB, mais uma vez, negava-me o acesso às suas tão disputadas carreiras.
Não assimilei o fracasso. Perdi o interesse pelo futuro. Deixei de gostar da vida. Nada mais fazia sentido.
Num sábado, pouco mais de meio-dia, deitado no sofá da sala da minha casa, o olhar perdido no nada, eu encaminhava um crucial e perigoso processo depressivo. A voz dele, por demais conhecida, fez-me perceber que assim iniciava uma trajetória para a qual ele não me havia preparado: Filho, você ainda é muito novo. A vida apenas está começando para você. Você é capaz, é competente, é batalhador. Não vai se entregar logo no primeiro obstáculo. Outros concursos virão e você ainda vai ser vencedor. Seu pai sempre apostou e continua apostando em você. Agora preste bem a atenção: se na minha casa restar apenas um caroço de feijão, ele será repartido entre todos os meus filhos. Aqui, filho meu não passa necessidade sozinho, ao desamparo. Conte sempre com o seu pai.
Foi a injeção de ânimo de que eu precisava, o estímulo vindo em boa hora.
Logo, obtive aprovação (6º lugar/20 vagas ofertadas) em certame promovido pela Fundação IBGE, para o cargo de Agente de Coleta, o qual assumi na Agência de Baturité (nos tempos do seu Juvenal).
Depois, logrei êxito em concurso para Agente da Polícia Federal. Ele, o meu pai, não permitiu que eu sequer iniciasse os procedimentos de qualificação. Ele tinha as suas razões. E eu aprendi a confiar nelas.
Na sequência, já casado, veio a aprovação no vestibular da UFC, no concorridíssimo curso de Economia [matrícula: 7621034; e eu tinha sido o 34º colocado de toda a Área de Humanidades (1), no vestibular 2 (meio do ano) de 1976]. Logo eu, vindo do interior e sem ter passado sequer na calçada dos muitos cursinhos de Fortaleza.
Ainda em 1976 (provas em 8.8 – Português: 9,8; Potencialidades ou Nível Mental: 9,2; Matemática: 8,6 – e em 10.10 – Datilografia: 7,6), já mais para o final do ano (resultado divulgado nos últimos dias de dezembro), obtive aprovação no concurso para Auxiliar de Serviços Administrativos do Banco Central, alcançando a primeira colocação (12 vagas/inscrição nº 1.444) na região jurisdicionada pelo então Departamento Regional de Fortaleza. Tomei posse em março de 1977, mais precisamente no dia 8, uma sexta-feira.
Em meados de 1981, a minha mais marcante vitória: a aprovação no concurso interno para Técnico Básico da Carreira de Administração do BC, com o meritório primeiro lugar nacional (das 130 vagas oferecidas, somente 83 foram preenchidas; vê-se, então, o nível do certame e, por extensão, o valor da conquista).
Aqui merece registro, a meu sentir, um fato relatado oficiosamente pelo facilitador (o colega Edmar, do então Depro/Brasília) de evento de treinamento na área de informática voltado para a preparação de gerentes no curso do processo de instalação dos núcleos de processamento de dados nas extensões regionais da instituição. Segundo ele, concluída a fase de correção das provas, o resultado teria sido muito aquém do desejado, pondo em xeque, na relação custoxbeneficio, a validade do certame e em risco até a possibilidade de um novo concurso mais adiante. Explico. Como o sistema de correção adotava critério com base no desvio padrão – ou seja, em termos mais explícitos, o valor de cada questão era obtido em função do número de acertadores: quanto menos esses, maior seria aquele –, o meu desempenho pessoal houvera contribuído para a ocorrência de um grupo muito reduzido de aprovados. Havia uma saída. Para tudo há, menos para a morte, como dizia o mestre Expedito, o meu velho, genioso e generoso pai. Consultado o departamento jurídico da autarquia, sempre muito criterioso e rigoroso em seus pareceres, a direção do Bacen determinou que se adotasse o procedimento então rotulado de hors concours. Excluíram-me do universo de candidatos, já com a primeira colocação legitimamente garantida, e “rodaram” novamente o sistema, agora só com os demais. E juntaram-se a mim no panteão dos vitoriosos, com direito a dobrar o salário, 82 deles – o último, um legítimo Aragão de Sobral, bom de papo e de dança, que, dizendo-se primo de Renato, o Didi trapalhão, comentou jocosamente comigo, numa das noites festivas – luarada ao som das cordas de um bem tratada violão – do Cantinho Maluju: Dois cearenses abrindo e fechando a relação: Baturité numa ponta; Sobral na outra. Rimos.
Quando eu fui comunicar esse grande feito ao meu pai, até por reconhecimento, ele se encontrava sobre um andaime montado à frente da nossa casa – no Alto da Capela, Putiú, Baturité – preparando a platibanda (parte mais alta da fachada) para a pintura. E a sua reação jamais poderei esquecer. Parou por um instante o que fazia, olhou-me com naturalidade e disse: Eu já sabia. E retomou a atividade. No almoço, comemoramos com um caloroso e sincero abraço. Acho até que o ouvi sussurrando: Nunca deixei de confiar em você.
O meu pai sempre esteve comigo. Sempre senti sua estimulante presença nas vitórias memoráveis. E também nos dolorosos fracassos. Acho até que ele, um ex-cantador de viola e respeitável mestre de obras, está agora aqui comigo a inspirar-me na escritura dessas mal traçadas linhas.
Em nome do pai… é o título da minha crônica hoje publicada no jornal eletrônico Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br). Leiam-na.
Um feliz DIA DOS PAIS para todos nós.
RETALHO Nº 3 (19 de agosto de 2017)
Amigas e amigos,
Muitos são os elementos, quase todos imperceptíveis, que compõem o processo da leitura – demasiadamente humano, porque divino! (E, se somos mesmo semelhantes a Deus, que Ele não saiba! E, se souber, que acolha isso como uma pilhéria!) –, qualquer tipo de leitura (Há até quem leia nas entrelinhas, num procedimento sublinear!).
Pois bem. Vocês já pararam pra pensar no que ocorre com um indivíduo, simples e pouco letrado, bem acomodado numa parada de ônibus, sujeito a chuvas e trovoadas, quando lê apressadamente o curto texto indicativo do destino de um transporte coletivo em movimento? Vocês já experimentaram a sensação de deparar, surgindo assim quase do nada, uma placa estrategicamente posicionada, com uma única palavra de advertência: PERIGO! ou CUIDADO!? E como reage, até mecanicamente, o motorista em pleno comando de um veículo qualquer quando a luz do semáforo muda de cor? Que viagens vocês empreendem, sem sair fisicamente do seu exclusivo lugar de leitura, a bordo de um romance de Machado (o bruxo das narrativas) ou de Verissimo (o gaúcho-pai), de um conto de Moreira (o cearense Campos) ou de Rubem (o Fonseca dos contos policialescos), de uma crônica de Verissimo (o gaúcho-filho), de Rubem (o Braga dos textos poéticos) ou de Sabino (o Fernando autor da biografia da primeira ministra do governo descollorido), de um poema de Drummond (o da pedra)? E aí o que vocês fazem ou já fizeram com a pedra no meio do caminho? As pedras de vocês?!
Ler é, pois, encantar-se, é deslumbrar-se, é alçar voos, é viajar… É embriagar-se com o néctar dos deuses. É usufruir do que de bom a vida tem a oferecer. É ver o mundo pelos olhos de outrem. É buscar a compreensão do mundo em que vive. É agir ou reagir em situações simples ou complexas do cotidiano.
Só não lê quem já morreu.
Encontrem-me, hoje, no Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br).
Leiam-me em Da leitura para a redação e saibam como reagi (ilações, inferências) na primeira leitura do conto Um dia desses, de Gabriel García Márquez, escritor colombiano e ganhador de Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto de sua obra literária.
Tenham todos um excelente final/início de semana.
Um abraço fraterno.
RETALHO Nº 4 (26 de agosto de 2017.
Amigas e amigos,
Quando se entrevista um escritor, poeta ou prosador, é comum perguntar o que ou quem mais o influencia. Há quem se declare seguidor de geniais artífices da palavra. É natural que isso ocorra. Eu mesmo, na simples condição de escrevinhador, não raras vezes tento amoldar a minha produção textual ao estilo de quem estou lendo ou tenho lido recentemente. Mas também acolho os mais variados matizes de influências, muitas das quais me vêm de onde menos espero.
O texto hoje publicado no Segunda Opinião – Azar do xará! – nasceu de uma dessas influências que rotulo de “serendipidade”, ou seja, uma descoberta afortunada feita, aparentemente, ao acaso.
Explico.
Houve uma época em que me tornei leitor assíduo das crônicas diárias que o cearense Airton Monte publicava no caderno Vida&Arte do jornal O Povo. Na tarde do último domingo, enquanto manuseava alguns livros (alfarrábios) adquiridos à época da minha rica experiência acadêmica – estudante de Letras na UFC –, com o propósito de revisitar alguns estudos sobre como surgem novas palavras – processo conhecido como neologismo –, apresentou-se-me uma folha de papel (um A4 dobrado ao meio) já meio empalidecida, que, desdobrada, revelou o que escondia nas entranhas: a crônica de Airton publicada em 19 de março de 2002, denominada Azar do xará.
Deu-se o insight (leia-se “insaite”).
Deu-se o estalo.
Propus-me, então, a escrever algo com igual perspectiva.
Resultado: o texto que produzi pode ser lido no Segunda Opinião, edição de hoje.
Visitem-me lá, por favor! Como?! Dê um simples clique no endereço do jornal eletrônico: www.segundaopiniao.jor.br.
Leiam-me. Vocês vão gostar.
Um excelente final/início de semana.
E um abraço fraterno.
A todos.
RETALHO Nº 5 (4 de novembro de 2017)
LIVRE-ARBÍTRIO
Desde os tempos edênicos, com a decisão adâmica de desobedecer à ordem do seu Criador e aceitar o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, o ser humano sabe que detém o poder, por Deus concedido, de escolher as suas ações, o caminho que deve seguir.
Desde os tempos edênicos, com a expulsão de Adão e Eva do paraíso terrestre, do Éden, por decisão do seu Criador e em face do ato de desobediência de sua criatura, o ser humano sabe que é responsável pelos atos cometidos, tendo de submeter-se à devida contraprestação.
É o milenar livre-arbítrio ou livre-alvedrio, que se manifesta nos campos religiosos, psicológicos, morais e científicos. Difere de liberdade, contrariamente ao que muitos de nós praticamos cotidianamente. Segundo Santo Agostinho, enquanto o livre-arbítrio consiste na possibilidade de escolha entre o bem e o mal, a liberdade decorre do bom uso dessa faculdade. E esse entendimento é capaz de livrar-nos de práticas que certamente nos causariam arrependimentos.
A ninguém é dado fugir das consequências dos atos que comete. E isso pode ser crucial.
Amigas e amigos,
Hoje estou no Segunda Opinião com a crônica Retalhos do cotidiano – Caça ao indolente.
Permitam-me convidá-los ao nosso já tradicional encontro de fins/inícios de semana. Acessem, para tanto, o sítio do jornal eletrônico, mediante um simples clique em seu endereço: www.segundaopiniao.jor.br.
Desejo a todos uma deleitosa leitura.
Um abraço fraterno.
RETALHO Nº 6 (11 de novembro de 2017)
EU SEI QUE SOU
Sou do tempo em que os leiteiros, montados em lombos de burros bem domados e treinados, vendiam de porta em porta o leite de vaca, à base de litro bem medido; todos muito sociáveis (Bom dia, comadre! Tudo em paz com os seus? Queira Deus! Queira Deus!), todos muito capazes de “batizar” o leite in natura com água recolhida, nem sempre bem coada, de rios, riachos e até córregos, cursos d’água estratégicos entre as vacarias, com seus cheiros característicos, e a clientela feminina, sempre bem servida e agradecida.
Sou do tempo em que os verdureiros também negociavam de porta em porta os produtos de suas hortas, mais frequentemente a dupla “cheiro verde” – coentro e cebolinha –, conduzidos em bacias de alumínio ou vasilhames de flandres, equilibrados no alto da cabeça protegida por rodilha de pano.
Sou do tempo em que os padeiros, com seus cestos de pães em bisnagas, recém-saídos do forno à lenha, acomodados na garupa de bicicletas, visitavam sua freguesia ao cantar sequenciado dos galos, com o sol ainda no deleite de seus últimos cochilos, fazendo a costumeira entrega do que seria o básico da primeira alimentação das pessoas – o café da manhã. Irrompe da memória meio desgastada pelo tempo a figura frágil de uma mulher valorosa: dona Vicença; em todos os dias da semana, quando as portas e janelas da casa de meus pais se abriam para o início das atividades cotidianas, já lá estavam, no peitoril de uma das janelas frontais, enrolados em papel de embrulho, quatro bisnagas do pão de cada dia. Ela era silenciosa no agir; aos domingos, bem cedinho, prestava contas com meu pai.
Sou do tempo dos bodegueiros e das cadernetas de assentamento, a lápis, das compras/vendas praticadas na modalidade a prazo, à época rotuladas de “fiado”.
Sou do tempo do fogão à lenha e do café no bule de ágata verde ou azul, das tertúlias e das festas de igreja, dos leilões e das “lindas páginas musicais” nas irradiadoras, dos caritós e das disputas entre os partidos azul e encarnado, dos flertes e dos namoros sem compromisso, das conversas noturnas de pessoas sentadas na calçada, das ruas de calçamento em pedras toscas e das casas sem grades de ferro.
Sou do tempo… dos velhos tempos… dos idos tempos… dos bons tempos.
Lembranças desses tempos, com resquícios que ainda fervilham na quase septuagenária memória – os quais chamamos de reminiscências –, é que me conduziram ao longo do ato de tecer o texto que o Segunda Opinião publica na edição de hoje, ao qual atribuí o título Quem guarda com fome, vem o gato e come, adágio popular quantas vezes ouvido da boca de meu saudoso pai.
Amigas e amigos, convido-os ao deleite de sua leitura.
Para tanto, disponham-se a repetir, mais uma vez, o gesto amigo que nos faz tão bem, o nosso tradicional encontro sabatino e virtual. Um clique no endereço eletrônico – www.segundaopiniao.jor.br – do sítio do jornal e lá estarei com a minha crônica de braços abertos para acolhê-los.
Desejo a todos um excelente fim/início de semana.
Um abraço fraterno.
RETALHO Nº 7 (18 de novembro de 2017)
MAIS QUE TOLERAR. ACEITAR. ADMITIR.
Neste exato momento, em muitos lugares do mundo, cometem-se crimes covardes, bárbaros, hediondos, de consequências extremamente danosas. São atores desses teatros de horrores indivíduos que se assumem emissários do Bem, com direito a julgar, a punir e a castigar o Mal que, a seu exclusivo juízo, outros, semelhantes seus, insistem em reverberar em atitudes, em comportamentos, em vivências. Como se fossem flagelos divinos na luta contra a perdição da humanidade, não aceitam, não admitem, não toleram as diferenças no modo de ser dos outros. Não se vergam à realidade dos tempos atuais. Agem com rigor, embora comportem-se como marginais. Atiram a primeira pedra, embora cometam pecados que tentam debalde encobrir.
E nós, por acaso, também cometemos intolerâncias contra pessoas cujas atitudes, a nosso exclusivo entender, afrontam as regras por nós tidas como de bom comportamento? Arrisco-me a dizer que sim. O que fazemos nesse sentido é que certamente não contém elementos, matizes e contornos capazes de justificar a tipificação de crime.
Admitamos, sem hipocrisia, que tanto sofremos quanto praticamos pequenas intolerâncias. Será que temos ideia do que pode causar aos olhos de muitos de nós um simples brinco na orelha de um jovem? E as tatuagens na parte posterior das coxas de uma jovem que só veste roupas curtíssimas? E o piercing no umbigo de quem quer que seja? E um corte de cabelo espalhafatoso? O vestir-se? O andar…?
A meu ver, o importante é que saibamos lidar com as diferenças, conter nossos impulsos, nossos pressupostos, nossos preconceitos, avaliar proativamente as possíveis consequências de nosso modo de ser e principalmente de agir e, acima de tudo, deixar que o respeito presida sempre as nossas relações interpessoais. O meu direito cessa exatamente onde floresce o do outro.
Pois bem.
Amigas e amigos, convido-os a um passeio virtual pelo sítio do jornal eletrônico Segunda Opinião, onde lá me encontro, à sua espera, com a crônica de hoje, intitulada Recortes do cotidiano – Quão absurda é a intolerância!
Com um clique no endereço eletrônico do sítio (www.segundaopiniao.jor.br), as janelas e portas do SO se abrirão, ofertando um deleitoso cardápio de textos sobre temas vários e cosidos por hábeis mãos.
Desejo a todos, além de uma boa leitura, um excelente fim/início de semana.
Um abraço fraterno.
RETALHO Nº 8 (9 de dezembro de 2017)
Amigas e amigos.
De vez em quando, recolho um dos três livros de poemas de Mário Quintana que enriquecem a minha estante, abro-o aleatoriamente em qualquer das páginas e me delicio com gotas de sensibilidade criativa do consagrado poeta gaúcho, cuja produção poética se assenta no “espanto da descoberta”.
Hoje, tão logo retornei da minha feira sabatina, ali pros lados do Mercado São Sebastião – e isso me faz relembrar as feiras sabatinas de minha terra natal, ali no entorno da igreja de Santa Luzia –, e recolhi os produtos que ainda pude adquirir e compõem a minha cesta básica familiar, recorro ao Baú de espantos e, por uma dessas coincidências que não me cobram justificativa ou explicação, estaciono o meu espírito leitor no poema O colegial, à página 123.
Deleitem-se, ó afáveis leitores, com alguns versos de Quintana: “O vento passa lá fora / e eu, no quadro negro, imóvel / – ó muro de fuzilamento! / Morro sem dizer palavra. / O professor parece triste, / talvez por outros motivos. / Manda sentar-me / e eu carrego, / ó almazinha assustada, / um zero, como uma auréola…”
Ontem, por volta das nove da noite, em ambiente cuja ornamentação – arte manual de minha eterna parceira e de minha neta primeira – realça o espírito natalino que ora preside a quase totalidade de nossos atos demasiadamente humanos, concluí a minha crônica da semana – Dona hipotenusa e seus dois catetos –, transmitindo-a, em seguida, ao professor Osvaldo Araújo, dileto e diligente editor do Segunda Opinião.
Às três da madrugada, eu já procedia à primeira leitura de minha cria, na edição de hoje do jornal eletrônico.
A coincidência com o poema de Quintana pode ser por vocês percebida. A leitura da crônica propiciará, entre outros inúmeros encantamentos, essa espantosa descoberta.
Encontrem-se comigo no espaço virtual em que se insere o SO.
Leiam-me.
Deleitem-se com outras leituras ali postas à sua disposição.
Deem um clique no endereço eletrônico do sítio do jornal (www.segundaopiniao.jor.br) e saboreiem os variados itens do cardápio textual que ele oferece.
Um bom final/início de semana a todos.
Um abraço fraterno.
RETALHO Nº 9 (14 de abril de 2018)
Amigas e amigos,
Já nos estertores do último século, quando o mundo informatizado já se preocupava – e muito! – com o “bug do milênio”, houve um momento em que se verificou o recrudescimento de um pensamento marginalizante, segundo o qual somente o homo brasilis nascido do meio do mapa pra baixo [da Bahia e Minas até a região dos pampas] era capaz de desenvolver e pôr em prática o “senso crítico”. Os nordestinos, coitados!, não sabiam sequer do que isso se tratava. Eram uns “Maria-vai-com-as-outras”.
Numa das vibrantes aulas do professor Paulo Mosânio, o assunto nos foi por ele servido de bandeja. Tudo porque os luminares sulistas, em revista especializada em trabalhos de pesquisa sobre a língua portuguesa falada no Brasil, selecionaram produções acadêmicas que, sob o “olhar crítico” do “doutor cabeça chata”, não chegavam ao mesmo nível da excelência da tese (logo depois transformada em livro pela UFC Edições) por ele defendida na Unesp, e por eles omitida “propositalmente”, a qual merecera da respeitável professora Maria Teresa Camargo Biderman, sua orientadora, no fechamento do Prefácio por ela assinado, o seguinte comentário: Para os estudiosos, gramáticos e lexicógrafos, é manancial riquíssimo para a descrição do português.
Ele fez uso de uma alegoria.
“Há entre a galinha e a pata perceptíveis diferenças. Delas, uma há que bem se ajusta ao caso. A galinha põe um ovo comum, deste tamanho (dedos polegar e indicador à distância de uns cinco centímetros), e cacareja e cisca e se esgoela, avisando alucinadamente o grande feito. A pata põe um ovo substancioso, deste tamanho (dedos polegar e indicador à distância de uns dez centímetros), mas mantém o fato sob segredo; para ela, algo muito natural. Os dias passam e o fenômeno se repete, cotidianamente. A galinha choca e suspende a postura. A pata praticamente desaparece… até que, sem que ninguém isto espere, sai do mato com mais de uma dúzia de enfileirados patinhos. Conclusão: o ‘senso crítico’ sulista é a galinha; o ‘olhar crítico’ nordestino é a pata.”
Esse era o Paulo Mosânio que conheci; que trocou a faculdade de medicina pelo curso de letras… mas que se fez doutor, por méritos; que ministrava aulas com eloquência, com erudição, com prazer; que ensinava e seus alunos aprendiam. E eu tive a honra de participar de alguns de seus riquíssimos processos formativos, na condição de discípulo, de aprendiz.
Amigas e amigos.
A edição de hoje do Segunda Opinião publica um texto meu – E ele esteve no meio de nós –, por meio do qual eu me proponho reverenciar o Mestre que agora brilha em plano bem mais elevado.
Acessem o sítio do jornal eletrônico (www.segundaopiniao.jor.br) e façam proveitosas leituras.
Um excelente final/início de semana.
Um abraço fraterno a todos.
RETALHO Nº 10 (28 de abril de 2018)
Amigas e amigos,
Em O príncipe*, sua obra prima, o florentino Nicolau Maquiavel ressalta que “se deve observar que, ao tomar um Estado, o conquistador deve praticar todas as necessárias crueldades ao mesmo tempo, evitando ter de repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, sem fazer inovações, seduzindo-o depois com benefícios.”
Para quem viveu a Era Collor, ainda ressabiado com o desastroso – economicamente falando – governo Sarney**, com inflação que atingiu o espantoso patamar de mais de 1.700 por cento ao ano, pode, neste tempo crucial, em face de tudo o que acontece no plano político nacional, potencializado pela aproximação de um novo processo de escolha do mandatário maior, refletir sobre o poder do voto, sobre a responsabilidade cidadã de quem deve indicar alguém que conduzirá os nossos destinos por quatro anos.
Irá, certamente, lembrar-se da “crueldade” – a que se refere Maquiavel – embutida no Plano Collor por Zélia Cardoso e sua prodigiosa equipe, qual seja a do confisco de valores depositados em contas bancárias, tituladas por cidadãos comuns, até então disponibilidades financeiras consideradas imunes a ações de terceiros, criando-se a figura dos “cruzados novos retidos”.
“Ao conquistar o Estado”, o alagoano Fernando Collor de Mello, tendo vencido, numa disputa acirrada, o então sindicalista Lula, inaugurou o seu mandato arguindo, em seu favor, “a chancela das urnas” para retribuir o povo que o ungiu nas urnas com essa “crueldade”.
Recomendo, amigas e amigos, a leitura do texto Estilhaços do tiro collorido no dragão da inflação atingiram gente indefesa, que leva a minha assinatura e o Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br) publica na sua edição de hoje.
Adianto que nele relato fatos por mim vivenciados, na condição de servidor público federal – “marajá”, portanto –, os quais revelam, a meu ver, um pouco do inferno a que foram condenados, sem o justo direito de defesa, cidadãos comuns.
Dê poder ao homem e ele mostrará do que é capaz.
Desejo-lhes, amigas e amigos, além de uma agradável leitura, um final/início de semana bastante proveitoso.
Um abraço fraterno a todos.
Notas do autor:
* Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, primavera de 2001; pág. 66.
** O maranhense José Sarney, filho de dona Queola, assumiu a presidência da República numa situação no mínimo interessante. Filiado à Frente Liberal, sucedânea da extinta Arena, foi derrotado pelo mineiro Tancredo Neves, do MDB, no Colégio Eleitoral, na última versão da escolha por via indireta, sem o voto popular. Tancredo faleceu antes da posse. O paulista Ulysses Guimarães, líder emedebista, defensor incansável do processo de redemocratização, fez prevalecer o entendimento de que cabia ao preterido no CE, o autor de Marimbondos de fogo e já imortal, o direito de assumir a presidência. O general João Baptista Figueiredo, último do regime militar, negou-se a passar-lhe o cargo; saiu pela porta dos fundos, pedindo que o esquecessem. Dizia ele que preferia o cheiro do cavalo ao cheiro do povo. Sumiu no ostracismo.
RETALHO Nº 11 (12 de maio de 2018)
Amigas e amigos,
Em Gênesis (1, 28), Deus disse ao homem e à mulher: “Crescei-vos e multiplicai-vos”.
Por séculos, os casais, regra geral, cumpriram à risca essa recomendação divina. Não porque as mulheres fossem mais fecundas, mas – creio eu – porque, somente no último século do milênio recém findo, é que mais se acentuou a preocupação com o povoamento desregrado de algumas nações, de graves consequências para o tão desejado equilíbrio econômico, o que fez emergirem as políticas públicas de controle da natalidade. A mulher, então, desperta para uma nova realidade de vida, com uma outra forma de protagonismo. E as proles, que tendiam a superar a marca de dez filhos, passam a conter apenas o que os cientistas chamam de “reposição”, ou seja, dois – um casal, de preferência.
No meu pequeno mundo, onde adolesci, as mulheres, senhoras casadas e prendas do lar, eram, antes de tudo, mães. Dona Enedina, genitora minha, teve dez (quatro morreram na infância, o mais precoce com apenas 24 dias); a madrinha Núbia, seis, dos quais cinco vivem. Dona Margarida, acho que oito, não menos que isso. Dona Fransquinha, cerca de oito, também. Dona Nazaré, lembro-me de nove. Dona Lourdes, parece-me que sete. Dona Ana, um casal, mais quatro adotadas e dois netos. Dona Zefnha, não menos de seis. Dona Lúcia, exatamente dez, com duas perdas. Todas elas, mães in extremis, cuidaram de seus rebentos com zelo, pulso forte e amor. Encaminharam-nos para a vida, cuja luz já lhes houvera dado, com prazer e dor. Mães na essência.
Estimulado pela aura de reconhecimento que ora nos envolve e até invade a alma, produzi um texto com o propósito de, ressaltando alguns aspectos do relacionamento que mantive com pessoas que marcaram o meu processo formativo, parceiros de saudáveis aventuras no entorno da igreja de Cristo Redentor, no Alto da Capela, no bairro Putiú, em Baturité, homenagear as respectivas mães. Atribuí-lhe o título Os bons frutos colhemos de boas árvores ou pelos filhos homenageio as mães. E o Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br) o publica na edição de hoje.
Animo-os a lê-lo. Vai valer a pena. Isso eu os asseguro.
A todas as mães, em todos dias, mas especialmente agora, a minha reverência filial, singela e sincera.
E aos filhos e filhas, um abraço fraterno.
RETALHO Nº 12 (20 de maio de 2018)
Amigas e amigos.
Hoje, quando nem bem o sol despejava sobre a terra os seus primeiros raios fúlgidos, bateu-me à pesada porta da já desgastada memória, cujas dobradiças meio oxidadas rangeram de incômodo, um colega de trabalho, do tempo em que éramos agentes públicos, quando recorrentemente me questionava:
– Professor, por que “século” com “esse”, se “cem” é com “cê”?!
Depois de orientá-lo a consultar um bom dicionário, atitude que jamais ele adotou – isso eu posso assegurar, sem risco de cometer qualquer tipo de injustiça –, dispus-me a apenas sorrir e menear a cabeça; e isso não o estimulava à consulta sugerida, mas o incitava a repetir a indagação sempre que nos víamos.
Sem muito aprofundamento, leciono que a questão se cinge à etimologia das palavras, ou seja, às suas origens e aos processos evolutivos que as moldaram assim. “Cem” com “cê” porque deriva do vocábulo latino centum => cento, cuja forma apocopada (reduzida) é “cem” e, daí, centena, centavo, centímetro, centopeia (cem pés). “Século” com “esse” porque se origina do vocábulo latino saeculum/saecula (singular/plural).
Agora, desvendar os mistérios/fenômenos que concorreram para que elas assim se apresentassem na língua de origem, primitiva, só um estudo filológico, que envolve pesquisa em profundidade histórica e antropológica, será capaz de.
Amigas e amigos, concordo com a estranheza de vocês quanto a esta conversa aparentemente sem nexo. Afinal, cabível é perguntar: o que me fez dar ao assunto este espaço?
É bem provável que tudo isso decorra de um fato bem significativo para mim. A marca que ora alcanço em apenas dois minguados centésimos de um século: 100! Cem com “cê”! Ou melhor, com “cês” (apócope de “vocês”).
Explico.
Na sua edição de hoje, o Segunda Opinião (www.segundaopiniao.jor.br) publica a minha centésima participação. E traz um texto que mescla prosa e poesia e que relata uma vivência marcante de minha impulsiva pré-adolescência, sob o título Entre ela e mim… Eu vira!
Recomendo a leitura que, certamente, será prazerosa. [Uma toalha que, ao sabor do frio vento, cai… / Invade-me um deslumbramento quase pueril, / Ante a plena nudez d’um belo corpo feminil… / Fecho os olhos… Ao abri-los, já não a vejo mais.]. Confesso que prazerosa pra mim foi a sua escritura.
Visitem-me, pois, no Segunda Opinião; lá estarei apagando as cem (com “cê”) velinhas que simbolizam uma trajetória gratificante. Ajudem-me: soprem-nas comigo.
Desejo a todos um excelente final/início de semana.
Um abraço fraterno.