Coisa do Brasil: negócio da China, por Osvaldo Euclides

Suponha que um banco estrangeiro, digamos europeu, resolve aplicar dinheiro no Brasil por um ano e quer fazê-lo de uma maneira normal, tradicional, sem nenhuma sofisticação ou complexidade.

Ele não quer correr risco, exige segurança máxima, liquidez plena e alta rentabilidade. Pois não, diz o seu banqueiro correspondente no Brasil. E acrescenta: investiremos seu dinheiro em títulos do Tesouro brasileiro, que rendem 14,25 por cento ao ano, têm liquidez plena e segurança absoluta.

Vamos supor que ele resolveu fazer isso no primeiro dia útil do ano e pretende resgatar no último dia do ano. Imaginemos que ele aplicou um bilhão de euros. Os euros foram trocados por reais numa operação de câmbio e, assim, ele pode aplicar quatro bilhões e meio de reais (a taxa de câmbio era perto de R$4,50 em janeiro) em títulos do Tesouro, que renderão 14,25%.

Então, em 30 de dezembro ele terá em valores brutos R$5.141.250.000,00. Explicando o cálculo: ele aplica 4,5 bilhões de reais, que rendem 14,25% de janeiro a dezembro. Bom, para levar seu dinheiro embora, no fim de dezembro, agora ele vai converter seus reais em euros (numa operação de câmbio, troca de reais por euros, inversa da que ele fez ao entrar), afinal, ele aplicou euros, deve levar euros.

Como a taxa de câmbio caiu muito (até dezembro, continuamos supondo), de R$4,50 em janeiro, em dezembro está em R$3,50. Ou seja, um euro valia R$4,50 em janeiro e por alguma razão (sabe Deus qual) caiu para R$3,50. Feita a conversão, ele terá, então, em números redondos 1,470 bilhão de euros.

Rendimento em um ano: 47%, isso mesmo, quarenta e sete por cento.

Quem paga? O Tesouro Nacional. Quem administra tudo isso? O Banco Central do Brasil, que manobra as taxas de juros e as taxas de câmbio. Tudo legal e legítimo, como costuma ser, como sempre foi e continuará sendo.

Coisas do Brasil. Negócio da China.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.