Clã Bolsonaro e seus interesses

Há algum tempo na redes sociais e em parte da mídia, persiste um debate que busca  definir qual é o programa político proposto pela ”nova era” do bolsonarismo. Críticos á esquerda sempre foram diretos;Bolsonaro e seus apoiadores representam o ”neofascismo” contemporâneo, ancorado em posições clássicas da extrema direita internacional, com ênfase no patriotismo sectário, fundamentalismo religioso e desregulamentação financeira, essa linha de pensamento defende que o bolsonarismo consiste em um projeto autoritário e anti-democrático,catalisador de uma virada perigosa na vida política nacional.

Setores do mundo econômico e da mídia tradicional,no período eleitoral e no ínicio do governo,ventilaram a possibilidade da ”nova era” representar algo bem diferente.Pela primeira vez na história recente, o país ia ostentar um presidente de convicções liberais, que ia modernizar o Estado brasileiro á níveis jamais vistos, iríamos nos integrar  ao jogo capitalista internacional e ganhar muito com essa iniciativa,nos livrando de vez da era petista, corrupta e atrasada, tudo isso com a batuta de Paulo Guedes, o Milton Friedman carioca.
Os apoiadores do governo nas redes sociais sempre bateram na tecla da religião.O  atual apoio fiel de setores evangélicos ao governo não surgiu do nada; o presidente sempre fez lobby para as igrejas evangélicas e se posicionou como uma figura cristã acima de tudo, radicalmente contra bandeiras ”esquerdistas” como descriminalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, e ensino de gênero e sexualidade nas escolas. Fiel á cartilha dos movimentos de extrema direita internacional, Bolsonaro se notabilizou pelo seu ataque á imprensa e desdém com o devido processo democrático, embora num cenário global de ”pós-verdade” e deslegitimidade dos mecanismo políticos tradicionais, essas características foram eclipsadas.
O enérgico esforço com que o presidente e seus apoiadores boicotaram as investigações da justiça contra  Flávio e Carlos, na  ”crise Queiroz”, no andamento das investigações contra o gabinete parlamentar que semeava fake news(alguém em sã consciência duvida da relação do Carlos com o pavão misterioso?) e  na  recente demissão do ex diretor da polícia federal, revelaram é que no final das contas o clã Bolsonaro é um grupo que se autoprotege, com um  projeto de poder de base familista e coorporativista.Setores graduados das forças armadas desde o inicio foram privilegiadas pelo governo, inclusive na discussão da reforma de previdência. É risível ver postagens de alguns líderes religiosos evangélicos destacando o caráter ”cristão” do presidente, o mesmo sujeito que falou para colega parlamentar que não a estupraria por que ela ”não merece” e que ao ser confrontado com o fato do Brasil  ter passado a China em casos fatais de COVID-19 reagiu com um macabro  ”e daí ?” desrespeitando fortemente as vítimas da pandemia e seus familiares. Se essa figura for o representante do cristianismo na política nacional o legado espiritual, moral e ético do Nazareno certamente se encontra em decadência…

O liberalismo econômico do presidente é pura conveniência. Bolsonaro enquanto deputado se destacava como um ferrenho coorporativista militar, passando longe de um  defensor do mercado. É fácil encontrar na internet a sua declaração em meados dos anos 90 afirmando que FHC deveria ser fuzilado em razão das privatizações do seu governo.Bolsonaro aceitou as teses de Paulo Guedes como uma reação ao petismo, uma forma de ser  oposição a esquerda, mas sem muita convicção. No final das contas isso não faz muita diferença, mas ajuda a entender que o desejo bolsonarista sempre foi o poder pelo poder, com o intuito de instrumentalizá-lo para os seus interesses familiares e eleitorais. Aguentaremos esse conluio maléfico por mais 2 anos e meio?

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.