Um amigo certa vez me disse que não gostava do Twitter argumentando que a rede era um antro de ódio e negatividade. Eu, como um usuário frequente deste espaço virtual, rebati dizendo que a rede das frases curtas e sentenças é um bom lugar pra se informar sobre tudo, cinema, futebol, política e etc. Porém, tive que dar o braço a torcer ao meu cético amigo quando vi a diatribe entre Ciro Gomes e Dilma Rousseff na última quarta-feira(12/10)[1]. Raiva, ódio e ressentimento sobrou neste embate virtual, principalmente no lado do Ferreira Gomes.Nada agradável para quem busca mais saúde mental. Entretanto, o ”debate” deixa claro alguma estratégias fundamentais da campanha do pedetista para o pleito presidencial do ano que vem.
Filho político de Tasso Jereissati e ex-tucano, Ciro Gomes busca se consolidar como o grande nome da chamada terceira via, polo que busca evitar um vitória eleitoral de Lula e Bolsonaro em 2022. Com discurso trabalhista que busca remontar Leonel Brizola, João Goulart e Juscelino Kubistchek, Ciro obviamente possui um programa econômico muito á esquerda para a terceira via brasileira, que em geral é liberal na economia e apoiou Jair Bolsonaro em 2018 por puro antipetismo. Seguindo o dito popular que ensina que quem não tem cão caça com gato, o pedetista sabendo que o seu nacional desenvolvimentismo requentado não agrada os liberais, busca fidelizar esta parte do eleitorado com um antipetismo virulento.
As duras palavras dirigidas a ex-presidente Dilma são frutos deste cálculo eleitoral engajado em trazer para o PDT eleitores mais á direita, bolsonaristas insatisfeitos com o governo, empresários, acadêmicos e profissionais liberais que votam na centro-direita, arregimentando com isso a liderança do bloco da terceira via (que no Congresso vota em massa em favor das pautas do governo Bolsonaro).
A tática de Ciro tem razão de ser. Cansado de não passar de 12%, o mais velho dos Ferreira Gomes tenta chegar num segundo turno com o PT roubando votos de Bolsonaro, liderando os votos dos ”nem Lula nem Bolsonaro”, como já destacado. Lula possui um eleitorado consciente e fiel, Bolsonaro também, porém, na atual conjuntura, é mais fácil o segundo perder votos(em decorrência da avaliação negativa de seu governo) do que o primeiro. O ex-presidente não está no olho do furacão da política representativa, concentrando-se em fazer lives no Instagram, o que de muitas maneiras preserva sua imagem e se torna um ativo eleitoral.
Porém, esta tática pode ser prejudicial a Ciro. Ao se alinhar politicamente com um discurso mais direitista e lava-jatista, o pretenso herdeiro de Leonel Brizola pode ganhar a antipatia do eleitorado de esquerda das grandes cidades cosmopolitas. Envolvidas nas temáticas de gênero e sexualidade, muitas eleitoras de esquerda não gostaram nada de ver a única mulher eleita presidente num país machista como o Brasil ser defenestrada desta maneira. Há muitos eleitores de esquerda, que não votam no PT e nem são militantes, que não endossam este tipo de retórica radicalmente antipetista, comumente vociferada por boçais como Eduardo Bolsonaro e Rodrigo Constantino.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando, diz a sabedoria popular. Ao tentar pegar mais pássaros, Ciro pode perder o que tinha na mão. Este tipo de erro pode custar caro