Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar…Parte 3, por Capablanca

O mercado financeiro brasileiro tem alguns elementos positivos que merecem ser reconhecidos. Os bancos são lucrativos e líquidos, embora pareçam não gostar do risco de emprestar. Outro fator é a qualidade da legislação – ao contrário do que se costuma dizer, o parlamento brasileiro fez nessa área um bom trabalho. Mais um: o estágio da tecnologia é satisfatório, apesar de suas vantagens não terem sido repassadas (ainda que parcialmente) aos clientes.

Por outro lado, o mercado financeiro brasileiro se comporta como uma selva. As oscilações e a volatilidade são normais em qualquer lugar e em qualquer tempo, mas a amplitude dos movimentos de alta e de baixa por aqui são tisunâmicas. Houve um tempo, no século passado, em que esse movimento atípico era aceitável, porque as taxas de inflação superavam os quarenta por cento ao mês e, endividado em dólares e sem qualquer soberania, a vulnerabilidade das contas cambiais era completa – o Brasil vivia de pires na mão, esmolando empréstimos ao FMI, ao Clube de Paris e a banqueiros privados estrangeiros. Depois que o país conquistou a estabilidade monetária, com a inflação abaixo de dez por cento ao ano (salvo desonrosas exceções) e hoje próximas a três por cento ao ano, era de se esperar que a montanha-russa das taxas de juros, da taxa de câmbio e da bolsa ganhassem patamares de normalidade.

Não foi o que aconteceu, não é o que está acontecendo. O cidadão não sabe, mas os agentes financeiros do mercado ganham tanto na alta, quanto na baixa. O investidor comum, não. Este quase sempre se estrepa na baixa e vive assustado com o sobe-e-desce sem proporção, normalmente perdendo e raramente ganhando.

As duas instituições que atuam na vigilância dos mercados financeiros e de capitais, o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) têm boa estrutura de pessoal, acesso pleno a cem por cento das informações, excelente suporte em normas legais e respeitabilidade pública, além de acatamento por parte dos próprios agentes do mercado.

Há alguns anos o Brasil ganhou absoluta e completa estabilidade nas suas contas externas. Não há na economia real nenhum fluxo que justifique essa montanha-russa da taxa de câmbio. As regras da CVM são mais do que suficientes para dar sentido espontâneo às bolsas e as bolsas têm a mais completa liberdade de auto-regulação.

Entretanto, apesar de tudo isso estamos assistindo a uma verdadeira selvageria de cotações e de especulações. Se o país é pequeno, e ainda é possível a grandes fundos e especuladores (internos ou externos) apostar contra o país e sair ganhando, está passando da hora de agir no sentido de criar mecanismos (de mercado) que o protejam.

Para começar, o Banco Central poderia ser mais transparente nas suas contas de centenas de bilhões de reais gastas para administrar uma dívida mobiliária relativamente baixa (o BC faz gigantescas operações de compra e venda diárias de juros e de dólares) e a CVM fazer uma análise da formação de preços nos pregões. Não dá para aceitar como normal o que está ocorrendo.

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

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Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.