Carnaval – música e fantasia, por Christianne Estrela

No começo, mais ou menos na fronteira entre a infância e a adolescência, sob os olhares vigilantes dos adultos, o que mais me encantava naquele ambiente de festa, música, cores, era a minha própria fantasia. Eu poderia ficar me observando no espelho, entrando cada vez mais na personagem, fosse uma princesa, fosse uma bruxa, querendo ver como os outros me viam.

Quando o tempo foi passando, passei a me encantar com a fantasia dos outros. E não cansava de observar e tentar captar alguma verdade naquelas falsificações. E havia muita verdade nos adultos que se vestiam como bebês, com fralda e chupeta, ou como piratas, com tapa-olho e mão de gancho.As fantasias revelavam naquele período uma pessoa capaz de brincar com a própria imagem, sem vaidades e sem segundas intenções, além de colocar alegria para fora.

Vivi criança e adolescente os carnavais dos sertões do Pernambuco e da Paraíba, cada um com suas tradições, cada um com suas particularidades, sempre de olho na fantasia, sempre vivendo e compartilhando alegria, sempre sob os cuidados e olhares dos “mais velhos”.

Fosse nos clubes, na rua ou nas casas de família que organizavam seus próprios bailes, as pessoas estavam separadas. A idade era o elemento de separação mais evidente. Mas a explosão de alegria também fazia suas diferenciações. Até o dinheiro, respeitados os limites democráticos da festa, podia promover distinções e provocar atenções.

Mas, sempre havia algo que arrebatava a todos. E a todos tornava iguais, em brilho, em luzes nos olhos, em sorrisos largos e soltos, em gestos leves, espontâneos, fazendo os corpos dançarem, as almas flutuarem. Esse algo era a música. A música de carnaval é despretensiosa desde a letra, é simples a partir da batida e põe todos a dançar e a sorrir e a cantar e a encantar.

É claro que eu lembro de minhas fantasias e das fantasias impressionantes dos outros. Lembro de todos os meus carnavais e de detalhes. Mas é a música que ainda hoje pega meu coração e o põe para sorrir, para dançar e para cantar.

Eu acho que a música se comunicava diretamente com a fantasia de cada um.

Chris Estrela

Empresária, empreendedora, advogada, professora universitária.

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Empresária, empreendedora, advogada, professora universitária.