A Cidade do Sol amanheceu alaranjada. O dia já estava avisando que ia ser bem quente. O cotidiano convidava a população para as suas lutas. O Buraco da Gia é um ponto comercial de Fortaleza. Um lugar de compras que junta pessoas de todos os lugares do Brasil.
A entrada é estreita, dando a ideia de um ambiente pequeno, mas ele vai alargando-se, e em comprimento parece um corredor enorme. O movimento já começa no alvorecer do dia. Os comerciantes que ali trabalham nos restaurantes já botam a água para ferver para fazerem as paneladas e mungunzás, comidas tipicamente nordestinas e fortes para quem precisa aguentar o dia de trabalho ou simplesmente conhecer um pouco da nossa culinária.
São muitos os ônibus que chegam ao local trazendo comerciantes para comprarem confecções e venderem em seus municípios. O Buraco da Gia contribui muito para a economia da Capital.
Ali misturam-se pronúncias e sotaques de todos os tipos. Todos os “Brasis” se encontram ali. Conversam em harmonia o oxente nordestino, o “merimã” do interior cearense, o “dji” fortalezense, o “bixinha” da Bahia, o “tem pareia não” do Rio Grande do Norte e o “égua” de Belém do Pará.
Como é bonito o nosso país! Uma diversidade cultural imensa! Quantas culturas dentro de uma cultura maior.
Adryanno, um velho amigo professor e também produtor cultural adentrou o espaço para uma possível pesquisa, pois tinha o intuito de realizar um documentário sobre a diversidade cultural existente no local, uma vez que é um ponto de moda popular forte na Cidade, e por isso mesmo atrai pessoas de várias regiões do País.
A dinâmica de trabalho dali o deixou impressionado. Os comerciantes falam alto, e já esperam os fregueses nas portas dos estandes quando vão passando, e assim lhes oferecem as suas confecções.
Adryanno gostou de uma calça cor ferrugem que estava exposta num balcão. O comerciante notou que ele tinha gostado e já lhe disse que a calça dava para ele. Adryanno sorriu e, como de costume, falou: – Eitaaaaa…como o senhor sabe que a calça cabe em mim? O senhor respondeu que só de olhar para o freguês, ele sabe. Que são anos de experiência. E ainda completou:
– Compre a calça, rapaz, que aqui é o canto mais barato. Lá fora uma calça dessas custa os olhos da cara. Abotoe a calça e bote no seu pescoço. Se der no pescoço é sinal que vai dar em seu corpo, que vai ficar boa em você.
Adryanno comprou a calça, bonita por demais, e pela metade do preço em comparação às que compramos nas lojas das cidades interioranas. O barato da área é que toda e qualquer roupa que alguém compre, não terá como provar. Se der errado, o dinheiro fica perdido. O próprio Adryanno comprou a calça utilizando o método que ele orientou e que os antigos ensinaram no sertão. DEU CERTO!