A palavra bullying vem do inglês, “bully”, que significa valentão. O termo evoluiu para descrever uma variedade de comportamentos agressivos intencionais e repetitivos que são exercidos por um indivíduo ou grupo contra outro para causar dor, angústia, e tem acontecido de forma recorrente nos diversos âmbitos sociais exigindo cada vez mais uma leitura interdisciplinar do fenômeno, um comportamento que traz consequências tristes nas escolas, para os estudantes e suas famílias.
Trata-se de um comportamento destrutivo de pessoas que se unem intencionalmente para hostilizar quem não consegue ou está em minoria para se defender e enfrentar a situação, indicando uma desigualdade de poder entre a vítima e o agressor.
O perfil do agressor em geral são crianças ou adolescentes que por algum motivo são levados a ter este comportamento, que mesmo tendo noção de estarem causando sofrimento, persistem realizando o ato como forma de aceitação intencional e repetidamente que ocorre sem motivação evidente com objetivo de intimidar ou agredir. Os tipos mais comuns são: moral, psicológico, sexual, material, social, físico, virtual.
Na maioria dos casos os agressores pertencem a lares nos quais ocorre algum tipo de violência ou que estiveram expostos à violência inter parental, sendo comum ser praticado por uma pessoa que se sente ameaçada pela presença de alguém que julga poder lhe tirar o lugar, e a partir de se sentir ameaçada pratica bullying como forma de marcar território.
Normalmente quem está sofrendo e quem está à volta, e não pratica o ato, se esquiva de denunciar por medo de perder a amizade dos outros colegas ou receio de ser a próxima vítima pois se alguém descorda e passa para o outro lado, será a próxima vítima.
Algumas crianças e adolescentes chegam a apresentar sintomas físicos como falta de apetite, queda no desempenho escolar, dor de barriga, dor de cabeça, entre outros.
Pensar o ódio e a violência que estão implícitos no bullying requer esclarecimento do quanto este comportamento está atrelado ao mecanismo inconsciente de exclusão do eu projetado no outro, sendo importante abordar o assunto de diversas maneiras para que as pessoas envolvidas possam dizer como se sentem, criando oportunidade de diálogos que validem sentimentos e que mostre o quanto esta situação é danosa para todos.
Maquiavel falava na via que ambicionava intimidar pela força, ódio e manipulação, e o que se observa é que a pessoa que pratica bullying usa os mesmos mecanismos para manter êxito sem medir consequências e desconsiderando quem está a seu lado, sendo comum a vítima ser aceita quando “entende” que seu lugar no grupo será de submissão em relação ao manipulador.
Nos últimos anos o bullying se tornou um grande problema de saúde pública, já que este comportamento pode causar sérios impactos à saúde mental, gerando ansiedade, baixa estima, depressão, tristeza, dor, auto agressão e até mesmo tentativa de suicídio.
Além dos aspectos inconscientes, não podemos desconsiderar a desinformação que, se ajustada ao aprendizado, deve ter início em casa com o exemplo dos pais e familiares, com leituras interativas, jogos, psicoterapia, com adultos atentos que consigam perceber no olhar da criança ou adolescente quando algo não vai bem.
Atualmente existe uma lei que estabelece punições claras para quem comete bullying, e uma maneira de ajudar as pessoas a não cometerem o ato é conscientizando todos no que pode estar por trás de quem pratica este ato, assim como de suas consequências.
Melanie Klein foi uma importante psicanalista que estudou profundamente a passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva, uma implicação clínica acerca da ética e da consciência moral. Na posição depressiva nos damos conta dos erros que foram impulsionados pela posição anterior quando não era possível enxergar o outro, e pior, o hostilizando com seu próprio devaneio.
São pessoas que se encontram desintegradas em seu mundo interno, que neste momento é sentido em partes, sendo a falta desta integração, se não tratada, vivida na vida adulta e sentida como incompleta. Na posição depressiva ocorre a integração dos objetos parciais que passam a serem vistos em sua totalidade, momento em que nos damos conta da presença do outro e das próprias atitudes, dos danos que podemos causar aos outros.
A consciência moral, expressa quer por ausência ou rigidez, pode estar na base da prática do bullying, sendo necessário conscientização também dos pais do quanto é danoso para seus filhos estarem envolvidos neste tipo de comportamento.
A convivência em comunidade implica e envolve a ética e a formação da consciência moral como manutenção da existência do outro que tem os mesmos direitos e deveres.
O bullying deve ser combatido por todos, ensinado em casa e nas escolas para que cada vez mais não aconteça, descrito no primeiro dia de aula para que diminua a possibilidade da presença destas situações. E se isto não for suficiente, além do tratamento psicoterápico, é preciso cumprir a lei.
O pior mundo que podemos apresentar aos filhos e alunos é aquele que não considera as próprias angustias e a presença do outro.
Claudia Zogheib
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Psicóloga Clínica, Psicanalista,
especialista pela USP- SP
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